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Há uma máxima que vigora entre os políticos profissionais quando se trata de eleição: "Feio é perder". Na base desse pensamento está outro, celebrizado n’O Príncipe, de Maquiavel: os fins justificam os meios. Ganhar a eleição é preciso ainda que se atropele a verdade, ainda que se contem potocas, ainda que tudo o que venham a dizer não passe de mera figuração marqueteira visando a conquistar o voto dos incautos.

O recente documento aprovado pelo PT durante o 14.º Encontro Nacional da legenda, realizado no Rio de Janeiro com a presença da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula, constitui-se numa prova cabal de que o partido vai se valer das mesmas promessas fantasiosas que o levaram ao poder pela primeira vez em 2002 para manter o Palácio do Planalto em suas mãos.

O encontro foi montado para enterrar de vez o movimento "volta Lula" e consagrar definitivamente a candidatura de Dilma Rousseff à reeleição. Lula, no entanto, terá a "posição que quiser" na coordenação da campanha – função evidentemente importante dados os sinais que emergem das pesquisas, segundo os quais a presidente vem experimentando forte tendência de decréscimo de prestígio perante o eleitorado. Em contrapartida, ainda que com índices modestos, seus adversários já somariam votos suficientes para levar o pleito à decisão em segundo turno.

Lula, no entanto, mantém taxas de popularidade muito superiores às de Dilma e o mais baixo índice de rejeição dentre todos os candidatos. Em tese, consideradas as condições atuais, seria imbatível – mesmo porque é o único nome também que a população identifica como capaz de realizar o generalizado desejo de mudança. O PT está atento a esse desejo e por isso lança mão de um jogo de palavras para dar consequência aos motes de que "perder é feio" e de os fins justificam os meios.

O jogo de palavras consiste em fazer o eleitorado acreditar ser possível "a continuidade com mudanças ou mudanças com continuidade" – ou seja, se a população quer mudar, o PT se apresenta como capaz de fazê-lo e, ao mesmo tempo, manter-se por pelo menos mais quatro anos no poder. É isso o que está proposto no documento aprovado ao final do seu 14.º Encontro, denominado Tática eleitoral e política de alianças.

Mas o documento não esmiúça qual seria a apregoada mudança que a eventual reeleição de Dilma traria ao país. Em termos de política de governo, por exemplo, o PT se diz comprometido a manter as políticas sociais e acabar com a pobreza – as mesma promessas que levaram a legenda a três sucessivas vitórias presidenciais. A tal intenção soma-se o velho discurso de marcar território atacando "os conservadores, setores da elite e da mídia monopolizada, que funciona como verdadeiro partido de oposição. Nossos adversários representam um projeto oposto ao nosso, muito embora um deles se esforce em transmutar-se em uma suposta terceira via. Guardadas diferenças secundárias e temporais, arregimentam os interesses privatistas, ideológicos, neo passadistas ou neovelhistas daqueles que pretendem impor um caminho diverso daquele implementado pelos nossos dois governos".

No outro extremo do discurso da "mudança", está a "continuidade" da tática de "agregar forças políticas de centro e uma ampla frente de partidos que apoiam ou venham a apoiar o governo da presidente Dilma". Trocando em miúdos, significa que o PT está mesmo disposto a manter a política do é dando que se recebe, pois "agregar forças" normalmente se traduz em distribuição de ministérios e cargos importantes.

Tudo isso, longe de indicar uma disposição real de mudança, mostram apenas que o PT, com sua esotérica e incompreensível proposta de "continuidade com mudanças ou mudanças com continuidade", nada mais quer do que dar continuidade ao seus plano de manter-se no poder acima de tudo.

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