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Banco Central Selic
Decisão do Banco Central de não iniciar ciclo de redução da Selic tem sido muito criticada pelo governo.| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O Comitê de Política Monetária do Banco Central não surpreendeu, na reunião que terminou nesta quarta-feira, dia 3: a taxa básica de juros, a Selic, foi mantida em 13,75% ao ano, ignorando tanto a gritaria do presidente Lula, seus ministros e até do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, quanto as pressões que devem vir da elevação dos juros nos Estados Unidos, definida também na quarta-feira. A grande dúvida do mercado financeiro não girava em torno da Selic propriamente dita, mas do tom do comunicado emitido ao fim da reunião, depois de um texto considerado particularmente duro em março – por mais que o Copom não tivesse ido muito além de repetir o que já vinha dizendo. De fato, o comunicado deste início de maio vem um pouco mais ameno, embora não deixe de fazer os alertas necessários.

Há acenos ao governo, especialmente nas referências ao projeto de lei do arcabouço fiscal enviado ao Congresso Nacional. “A reoneração dos combustíveis e, principalmente, a apresentação de uma proposta de arcabouço fiscal reduziram parte da incerteza advinda da política fiscal”, diz o comunicado. Mesmo quando alerta que o Copom pode voltar a subir os juros “caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, os redatores do texto acrescentaram, antes, um contemporizador “apesar de ser um cenário menos provável”.

Lula e seu entorno continuarão esperneando contra o Banco Central para ocultar o fato de que a “ancoragem das expectativas” depende de governo e Congresso retomarem a responsabilidade abandonada nos últimos tempos

Obviamente, tais acenos não bastarão para Lula e suas entidades-satélites, como centrais sindicais, que insistirão na redução forçada e artificial dos juros, que o petismo culpa por todos os males da economia atual, no melhor estilo “para quem só sabe usar martelo, todo problema é prego”. Mas, para estes, o comunicado também explica, didaticamente, por que ainda não há condições de iniciar um ciclo de redução de juros. As expectativas de inflação continuam subindo e os preços administrados devem subir ainda mais que o IPCA. No fim de abril, em sessão do Senado, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, já havia afirmado que o chamado “núcleo” da inflação, que desconsidera choques temporários, ainda é bem alto, girando em torno de 8% nos últimos 12 meses.

Os alertas mais importantes, no entanto, se referem ao novo arcabouço fiscal. Sua apresentação pode ter reduzido “parte da incerteza”, mas o Copom também diz que “não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal”, por dois motivos principais: primeiro, porque não há como saber que alterações o Congresso poderá fazer no projeto; segundo, porque ainda há muitas dúvidas quanto à capacidade de a nova regra, ainda que passe intacta pelo Legislativo, efetivamente gerar os resultados desejados em termos de resultado primário e dívida pública sem um aumento brutal de carga tributária. A recente elevação do salário mínimo e o reajuste de 9% para o funcionalismo, sancionado por Lula no fim de abril, devem pressionar ainda mais as contas públicas.

Uma ideia central do comunicado continua a ser a busca pela “ancoragem das expectativas” de inflação, que segundo Campos Neto vinham estabilizadas até novembro do ano passado. A vitória de um candidato que, ao longo de toda a campanha, manifestou sua ojeriza a qualquer tipo de ajuste fiscal levou o mercado financeiro a elevar suas estimativas de inflação, em um processo que ainda não terminou. Lula e seu entorno continuarão esperneando contra o Banco Central para ocultar o fato de que a “ancoragem das expectativas” depende de governo e Congresso retomarem a responsabilidade abandonada nos últimos tempos. Sem isso, não haverá tom cordial do Copom que resista.

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