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O cenário político da Venezuela desenhado pelo presidente Hugo Chávez parece totalmente descolado da realidade e de qualquer linha ideológica. É possível tirar estas conclusões diante das ações e pronunciamentos de Chávez e de seus ideólogos. O mais espetaculoso partiu de William Izarra, espécie de guru do chavismo. Izarra disse ao mundo que o presidente venezuelano quer ficar no poder pelo menos até 2021, para tornar realidade o seu projeto político, quando, então, "estará completa a transição do atual regime capitalista para o socialismo do século 21". Ao mesmo tempo, Chávez advertiu a oposição de que, se continuar não reconhecendo a sua supremacia política, convocará um referendo para incluir na Constituição uma emenda que permitirá a sua "reeleição eterna".

Com a ameaça, fica evidente o cunho ditatorial do regime chavista. Afinal, que modelo político é este que Chávez diz estar implantando no país? Izarra explica da seguinte forma o tal "socialismo do século 21": "A novidade é o componente espiritual. Há ícones que não existem no modelo cubano, basicamente marxista. E, para um marxista, o fato de Cristo estar presente seria uma verdadeira heresia. O socialismo do século 21 está estruturado em Bolívar, introduz Cristo dentro do que pode ser a busca do bem comum, o amor dentre os seres e a confraternização. Além disso, o nosso socialismo não descarta a propriedade privada".

A tentativa de descolamento da imagem de Fidel Castro, de quem Chávez sempre esteve muito próximo, serve tanto à necessidade de impor-se como líder moderno quanto à dissociação de um regime que já não vive dias de glória.

Izarra diz que o modelo econômico a sustentar esse idéario tão contraditório "não será a produção do mercado, que se traduz na acumulação dos benefícios". Para atingir tais metas, o ideólogo empenha-se pessoalmente em "difundir e aprimorar a consciência revolucionária" entre os venezuelanos, em seminários e conferências, tentando dar ares de novidade ao "novo socialismo". Na prática, fica claro que a pseudo-ideologia apenas serve ao sonho chavista de permanência no poder.

Enquanto isso, na Venezuela real – a da elevada taxa de pobreza, do analfabetismo, da carestia, da economia em crise, da censura e da supressão das liberdades individuais – os cidadãos vivem dias difíceis, sem boas perspectivas para o futuro. Segundo a última edição da revista britânica "The Economist", a Venezuela é um dos países mais vulneráveis à atual crise financeira, justamente por ser "hostil ao capitalismo global" e basear sua economia interna na receita da exportação do petróleo, cujos preços estão tendo uma acentuada queda.

O "socialismo do século 21" é um delírio político de mais um pretenso ditador perpétuo da América Latina. E faz escola, estimulando arbitrariedades semelhantes em países vizinhos que aceitam Chávez como fonte de inspiração. Fora da esfera regional, em que as fronteiras não são vistas com clareza, esse delírio tem efeitos negativos não apenas sobre os que estão dentro da órbita de influência chavista, mas sobre todo o conjunto de nações que tenta superar barreiras institucionais, econômicas, sociais e mesmo geográficas para garantir seu lugar ao sol na ordem mundial. O chavismo é, portanto, um problema de todos os latino-americanos.

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