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O ano de 2010 não será apenas um ano de Copa do Mundo. Será, também e principalmente, um ano eleitoral. Não que a Copa do Mundo não seja um evento importante e apaixonante. Sem dúvida o é. Todavia, o afamado encontro futebolístico não terá o condão de diminuir desigualdades ou de melhorar os nossos sistemas de educação, de saúde e de segurança. Não retirará nossas crianças das ruas. Não proporcionará moradia e nem uma vida mais digna a milhões de pessoas. Não acabará com a corrupção e não curará as mazelas da política e dos políticos brasileiros.

Daí a real importância de 2010. Neste ano que se inicia, além da busca pelo hexacampeonato, deveremos também buscar eleger políticos melhores do que muitos daqueles que elegemos há quatro anos.

"Mas não há o que fazer. Políticos são todos iguais", diriam uns. "Nada mudará com as eleições", diriam outros. De fato, esses são, infelizmente, pensamentos cada vez mais comuns e disseminados na sociedade brasileira. Porém, simplesmente ouvirmos e aceitarmos isso, de braços cruzados, parece-nos absolutamente inadmissível. Um conformismo e uma descrença absolutamente injustificáveis. Mas, então, o que fazer? A resposta, é claro, não é fácil nem única. Há vários caminhos e várias formas de transformação política e social.

Dentre esses vários caminhos, um deles parece ser o de nos darmos conta, com urgência, de que a democracia não se resume ao momento do voto. Precisamos perceber que democracia é muito mais do que um apertar de botão na urna eletrônica. Enfim, muito mais do que alguns poucos minutos em um ou, no máximo, dois domingos de cada ano eleitoral. E termos isso em mente é, sem dúvida, um primeiro e importante passo.

Precisamos perceber, portanto, que a democracia é um processo contínuo. Precisamos perceber que a democracia exige vigilância constante e que, em razão disso, precisamos todos encontrar mecanismos para que, no dia a dia, possamos, de alguma forma e em alguma medida, participar das decisões políticas do nosso país. Precisamos aprender a reivindicar, a exercer influência e a fiscalizar os nossos políticos.

Devemos pensar as questões políticas como de interesse nosso, de toda a coletividade, pois esse é o melhor remédio para evitarmos que muitos políticos continuem-na encarando como algo exclusivamente deles e para eles, ou seja, como algo a serviço de interesses meramente particulares.

Podemos e devemos refletir, por exemplo, sobre as limitações de iniciativas e atuações exclusivamente individuais e sobre a força de atuações conjuntas. Somos, reconhecidamente, um povo batalhador, comunicativo e solidário. Sendo assim, por que não colocarmos em prática, cada vez mais, o direito de associação que nos é garantido pela Constituição Federal? Por que não estimularmos o associativismo nas suas mais variadas formas? Nessa linha de pensamento, vale lembrar que Tocqueville, ainda no século 19, já alertava: "Nos países democráticos, a ciência da associação é a ciência-mãe; o progresso de todas as outras depende do progresso desta".

Acreditamos também que, com o desenvolvimento tecnológico e com a facilitação do acesso ao conhecimento e à informação, podemos sim começar a escrever novos capítulos na história política do Brasil. Internet, celulares, páginas de relacionamento, blogs, mensagens, e-mails e assim por diante. Por que não utilizarmos essas ferramentas como meios de influência, participação e fiscalização política?

Os tempos são, definitivamente, outros. Os próprios ataques à democracia já não são mais feitos com o exército na rua, com tanques ou armas em punho. A democracia é agredida por meios aparentemente sutis, mas que, na sua essência, revelam-se ainda mais cruéis, covardes e reprováveis. Assistencialismo, leis flagrantemente inconstitucionais, reiteradas tentativas de se limitar a imprensa e a liberdade de expressão, a criação de veículos de comunicação pretensamente públicos (TV Brasil etc.), a multiplicação dos cargos de confiança, entre outros.

Enfim, não há como esperarmos uma solução mágica e instantânea para os velhos problemas e para as novas ameaças. Precisaremos ser criativos e precisaremos inovar. Há uma célebre e conhecida frase que diz que "não há como obtermos resultados diferentes se fizermos sempre a mesma coisa". Por isso, se quisermos que 2010 e que os próximos anos sejam diferentes de 2009 e dos outros anos que já se foram, cabe a todos e a cada um de nós agirmos de forma diversa, ainda que seja, na pior das hipóteses, com um voto mais cuidadoso e mais consciente na próxima eleição.

Podemos todos desfrutar, sem dúvida, de um futuro muito melhor. Todavia, esse desejado futuro não surgirá em um piscar de olhos. Não virá pronto e não nos será subitamente presenteado. Devemos construí-lo juntos. Então, mãos à obra. Que 2010 seja, realmente, um ano diferente. E para melhor.

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