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Uma produção recorde de grãos na safra 2006/2007 aguarda o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. Isso é muito bom, mas não significa uma redução dos obstáculos a serem vencidos pelo novo titular da pasta. Como demonstramos no início da semana, no suplemento Caminhos do Campo, a arrecadação no campo deverá ser bem superior à dos últimos dois anos, mas as dívidas agrícolas aparecem como um sorvedouro dessa riqueza.

O clima ajudou, os preços melhoraram, mas serão necessárias, segundo os técnicos, três safras equivalentes à deste ano para que o produtor possa sair do vermelho.

Afinal, as dívidas não partem apenas da crise dos últimos três anos, remontando a financiamentos das décadas de 80 e 90, que foram securitizadas em 1997, com parcelamentos de até 23 anos. Atolados nos compromissos a honrar, os agricultores brasileiros partiram para a renegociação de R$ 2,8 bilhões tomados em 2005 e de R$ 5,8 bilhões referentes ao ano passado.

A maior parte desse montante de R$ 8,6 bilhões foi destinada ao custeio agropecuário, quase chegando a 50%. Maior produtor de grãos do país, o Paraná desponta também como um dos estados mais comprometidos.

Há forte otimismo oficial quanto à renda deste ano, apesar das ressalvas dos produtores e de entidades do setor. Na avaliação do governo, mesmo com o dólar em baixa, a arrecadação poderá chegar ao patamar histórico de 2004, qual seja a marca de R$ 29,2 bilhões.

Detentor de 70% dos contratos de financiamento agrícola e da metade do valor financiando no Paraná, o Banco do Brasil acredita, pela expectativa do setor de mercado e agronegócio, que os produtores conseguirão reduzir em um terço as dívidas dos próximos cinco anos no decorrer de 2007.

Por conta da produtividade de 3 toneladas de soja por hectare, estará garantido o principal veio de recursos nas contas do agronegócio. Mesmo assim, mesmo que sejam arrecadados os R$ 29 bilhões previstos, não haverá dinheiro suficiente para apagar as dívidas acumuladas. Seriam pagas tão somente as prestações que vencem no período. Outro fator de preocupação é o corte no orçamento que afetará a Defesa Sanitária no combate à febre aftosa.

A questão dos transgênicos também será um agente complicador do quadro, principalmente no Paraná, onde o governo estadual se mantém irredutível e infenso a qualquer tentativa de diálogo. A indefinição do Brasil quanto aos organismos geneticamente modificados já pode ter custado ao país R$ 23,6 bilhões. O cálculo diz respeito às vantagens que os produtores de soja, algodão e milho teriam deixado escapar, ou melhor, foram obrigados a passar ao largo. O levantamento inclui ainda o que os fabricantes de sementes – com uma tradição de quase meio século – perderam por conta do contrabando, notadamente o procedente da Argentina.

Acrescente-se a esse quadro a velha questão da montagem do segundo escalão do ministério. Tão logo confirmou-se a indicação do ministro, começou a corrida por cargos, como o de presidente da Conab – Companhia Nacional de Abastecimento -, um dos postos mais cobiçados. A companhia tem sob seu controle um estoque de 5 milhões de toneladas de grãos e, mais, cabe a ele propor e atuar na implementação de políticas agrícolas para a compra e distribuição de alimentos.

Como frisaram analistas ouvidos pela Gazeta, a hora é decisiva para garantir a própria sustentabilidade da produção agrícola. O que eleva ainda mais a responsabilidade do ministro que chega.

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