Dois mitos brasileiros foram desconstruídos nos últimos dias: a Justiça derrubou a lei estadual que autorizava isenção de pedágio para veículos de municípios onde se situam as praças de cobrança, à revelia dos contratos celebrados, e o presidente Lula anunciou que a hipótese de reestatização da Vale, discutida em consulta popular, não está na agenda do governo. São notícias que atestam evolução do Brasil para a sociedade contemporânea. Porém outros mitos ainda persistem: o de que o câmbio apreciado segura a inflação, o de que despesas de pessoal podem representar investimento público e assim por diante.

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No caso do pedágio paranaense, uma lei extemporânea propunha isentar veículos de municípios onde se localizam praças de cobrança das empresas concessionárias do Anel Viário Estadual. Sua adoção seguiu o ritual técnico de criação de novos diplomas legais, mas tratava-se de mera formalidade que não lhe retirava o vício essencial: atacar de forma unilateral um contrato de concessão juridicamente perfeito, como decretou a Justiça ao classificar a lei como populista e inconstitucional. É claro que todos desejamos uma tarifa razoável nas rodovias pedagiadas, inclusive com o exame das planilhas de custo para sua fixação.

Porém, dada a realidade da existência de contratos em vigência, tais providências só podem ser obtidas via negociação e não por confronto, como teima em insistir o governo estadual que, até agora, não cuidou de implantar uma agência reguladora para o setor.

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No caso da Companhia Vale do Rio Doce, não é demais ressaltar o despropósito da campanha para sua reestatização. Essa idéia esdrúxula substitui outra, também superada pela marcha do tempo, encenada pelos mesmos grupos de matriz ideológica à esquerda: o repúdio da dívida externa e do seu fiscal, o FMI. O Brasil acumulou saldos comerciais e gerou divisas que anularam o endividamento externo, sem traumas maiores.

Mais um mito recorrente, mesmo entre pessoas bem informadas, é o de que um câmbio apreciado que mantém o dólar baixo ajuda a controlar a inflação. O pressuposto é que a maior porcentagem de bens e serviços consumidos no país é produzida através de importações ou tem seus preços cotados em moeda estrangeira, quando se sabe que essa participação na economia em geral não passa de 15% do PIB – conforme o IBGE. O que gera inflação é a oferta escassa em relação à demanda, porque sempre operamos com a economia travada – conforme tem advertido o ex-ministro Rubens Ricupero.

Outro mito sustentado por "desenvolvimentistas" é o de que a expansão do Estado, com a contratação de quase meio milhão de servidores públicos, estimula o desenvolvimento. Pelo contrário, o inchaço do número e das despesas com pessoal vai na contramão dos interesses vitais do país, retratando a visão equivocada de que o governo precisa tutelar a sociedade. Pior, ao consumir quase 40% do PIB, essa distorção impede o verdadeiro desenvolvimento do Brasil, que cresce à metade da taxa dos demais países emergentes.