O governo brasileiro manifestou seu desagrado com a maneira como Israel vem conduzindo a ação militar na Faixa de Gaza, ação que já matou centenas de palestinos, a maioria deles civis, incluindo várias mulheres e crianças. Na quarta-feira, o embaixador brasileiro em Tel Aviv foi chamado de volta ao Brasil, e o embaixador israelense em Brasília foi convocado para dar explicações no Itamaraty. As duas ações, no código de conduta da diplomacia, representam uma condenação do governo brasileiro a Israel. Mas a resposta israelense surpreendeu e irritou os brasileiros. "Essa é uma infeliz demonstração de por que o Brasil, um gigante econômico e cultural, se mantém um anão diplomático", disse na quinta-feira Yigal Palmor, porta-voz da chancelaria israelense, à imprensa de seu país. Causou especial indignação o fato de a nota em que o Brasil condena "energicamente" a ação militar não trazer uma palavra sobre as centenas de lançamentos de foguetes do Hamas contra a população civil de Israel.

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O simples fato de a atitude brasileira merecer uma resposta desse porte já indica que o Brasil não é exatamente um "anão diplomático". Se o fosse, os israelenses não estariam nem um pouco preocupados com o que o Brasil faz ou deixa de fazer no âmbito das relações exteriores. Por mais que o Brasil não tenha uma influência internacional tão ampla quanto os Estados Unidos, a Rússia, a China ou a União Europeia, o país exerce liderança regional e vem participando, no jogo internacional, em grupos relevantes como o G20 e os Brics. A Organização Mundial do Comércio é presidida por um brasileiro. Não se trata, então, de uma questão de porte. A questão é como o Brasil usa o seu peso. E é aqui que a diplomacia brasileira se apequena.

Nos últimos 12 anos, o Itamaraty adotou posturas claramente ideológicas, a ponto de não se saber mais quem realmente dá as cartas na política externa brasileira, se o ministro das Relações Exteriores ou se o assessor especial da Presidência da República para temas internacionais, Marco Aurélio Garcia, que ocupa o cargo desde 2007. A coleção de vexames brasileiros no âmbito internacional é extensa. Na América Latina, destaca-se a defesa incondicional do regime chavista venezuelano: no episódio mais recente, o Brasil ajudou a bloquear o envio de uma missão da Organização dos Estados Americanos no momento em que Nicolás Maduro endurecia a repressão aos manifestantes contrários a seu governo. Anteriormente, o Brasil já havia manobrado, com Argentina e Uruguai, para colocar a Venezuela no Mercosul apesar de o país já não ser uma democracia – para isso, tiveram de suspender o Paraguai, usando como pretexto o impeachment relâmpago do presidente Fernando Lugo. O Brasil também patrocinou, em 2009, o retorno clandestino a Honduras de Manuel Zelaya, ex-presidente deposto pela Justiça. Não só a embaixada brasileira em Tegucigalpa o acolheu, como também permitiu que ele fizesse articulações políticas de dentro do prédio da representação diplomática.

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No Oriente Médio e na África a atuação brasileira também tem sido medíocre. Quando foi preciso condenar Bashar al-Assad pela carnificina que promovia na Síria, o Brasil foi lento e omisso, abstendo-se na votação de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU. Também se absteve quando o mesmo Conselho votou uma autorização para que forças da Otan ajudassem os insurgentes líbios, quando já estava claro que Muamar Kadafi (aquele que Lula chamou de "meu amigo, meu irmão") usaria de todos os meios possíveis para esmagar os rebeldes. Talvez pior tenha sido o caso da crise humanitária de Darfur, no Sudão; a abstenção brasileira no Conselho de Direitos Humanos da ONU ajudou a proteger o presidente Omar al-Bashir, que atualmente tem contra si um mandado de prisão expedido pelo Tribunal Penal Internacional. Eram todos casos em que havia farta documentação das atrocidades, e em que uma posição proativa não seria encarada como precipitação.

O porta-voz israelense erra completamente na avaliação do peso brasileiro, mas, ao questionar as escolhas feitas pelo país, fica mais próximo da realidade. O histórico recente mostra que nossa diplomacia, apesar de ações louváveis como a participação em forças de paz da ONU, tem se caracterizado principalmente pela omissão diante de tragédias humanitárias e pela subserviência à cartilha bolivariana na América Latina. É muito pouco para uma nação que já teve diplomatas respeitados internacionalmente, como o Barão do Rio Branco, Ruy Barbosa e Oswaldo Aranha.

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