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A disciplina de "Educação Financeira" poderá ser incluída nos currículos de 1.650 escolas públicas do Ensino Médio já em 2010. O presidente Lula deverá baixar um decreto criando dois comitês para coordenar a educação financeira no país. Um comitê cuidará de questões organizacionais e o outro tratará dos aspectos pedagógicos. O governo e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estão em negociações para que a educação financeira passe a fazer parte dos programas de ensino nas escolas de educação básica, seguindo orientação da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). É louvável que, finalmente, as autoridades e os educadores tenham acordado para a necessidade de incluir a educação financeira no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

Há alguns anos, economistas, professores e jornalistas vêm publicando livros, revistas e artigos alertando para a estranha omissão do sistema educacional brasileiro em relação aos assuntos ligados à vida econômica dos indivíduos, do governo e das organizações. Assuntos como tributos, comércio, contratos, dívidas, financiamentos, poupança, previdência e investimentos são alguns dos temas vinculados ao mundo financeiro, temas estes dos quais nenhum ser humano escapa. Deixar de ensinar esses assuntos desde os primeiros anos escolares das crianças é algo sem sentido e inexplicável. É necessário que a alfabetização financeira faça parte dos programas de ensino durante toda a formação educacional das crianças e dos jovens, e praticamente não há oposição quanto a isso.

O ex-presidente do FED, que é o Banco Central americano, Alan Greenspan, fez uma intensa campanha nos Estados Unidos para que a educação financeira fosse matéria obrigatória em todos os níveis escolares. Dizia ele que a ignorância da maioria dos políticos em assuntos de economia e finanças era uma das causas da deterioração financeira do governo naquele país, nos municípios, nos estados e na União. Greenspan sempre deixou clara sua indignação com a falta de conhecimento dos políticos americanos na matéria e com o descaso com que eles tratavam os problemas financeiros e vivia alertando para as graves consequências resultantes da falta de preocupação com a gestão das finanças nacionais. Os déficits gêmeos dos Estados Unidos (o déficit fiscal, resultante de gastos maiores do que a arrecadação tributária, e o déficit comercial, resultante do excesso de importações sobre exportações) foram os principais responsáveis pela desvalorização do dólar e pela piora da situação econômica do país.

Alguns analistas chegaram a escrever que o governo Bush e Congresso Nacional fizeram má gestão financeira porque, entre outras razões, faltavam-lhes conhecimento de economia e de finanças. Ainda que a equipe econômica do governo fosse formada por especialistas, estes eram uma minoria muito pequena diante da imensidão da máquina pública do país. Greenspan afirmava que a educação financeira não tem apenas a função de ensinar teorias, conceitos e técnicas; ela tem a função de criar consciência, despertar a mente para a importância e as consequências do manejo dos problemas ligados ao mundo do dinheiro. Segundo o ex-presidente do FED, um indivíduo ou uma família passa a vida inteira tomando decisões financeiras diariamente, desde as mais simples até algumas mais complexas, sem que absolutamente nada lhe seja dito ou ensinado na escola básica.

Apesar de todo alerta e indignação, a evolução da educação financeira nos Estados Unidos foi muito lenta e continua bastante atrasada. No resto do mundo a situação não é muito diferente. A crise mundial e a insistência de autores e analistas têm levado a algum despertar sobre essa questão, e a iniciativa do governo Lula é louvável e deve ser apoiada. Quem sabe o Brasil saia na frente e inclua, de forma rápida, conteúdos sobre finanças, tributos, comércio, contratos e demais aspectos da vida financeira, nos currículos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. As escolas privadas, por sua vez, poderiam oferecer contribuição relevante à introdução da educação financeira no Brasil, pois elas têm mais agilidade e mais flexibilidade administrativa do que o ensino público.

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