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Quem quer que tenha ido a uma formatura de terceiro grau nas décadas de 80 e 90 deve ter ouvido uma frase repetida a esmo pelos oradores, sempre de boca-cheia e sobrancelha empinada: "Agora, fazemos parte dos 4% da população brasileira com curso superior."

O número era arredondado, de ocasião: beirava na verdade módicos 3,6%. Mas pouco importa – para mais ou para menos, já descansa no álbum de retratos o país que tinha no ensino universitário um de seus mais agressivos sistemas de exclusão social. Estima-se que de 2000 para cá, entre 6% e 8% dos brasileiros tenham empunhado seu canudo, um número que tende a se tornar mais e mais alvissareiro, alterando de vez o perfil da educação nacional. Quem estuda mais lê mais e gera desenvolvimento, seja formado na USP ou numa faculdade de um ranchinho à beira-chão.

Mas alto lá.

Hoje, há cerca de 5 milhões de matriculados nas universidades, faculdades e centros universitários brasileiros, divididos em 2.252 instituições de ensino. Pelo andar da carruagem, os índices de bacharéis e licenciados só faz aumentar, beneficiados que estão pelas políticas de democratização das vagas, ensino a distância e um mar de cursos técnicos de curta duração.

Essa verdadeira Conquista do Oeste, contudo, começa a despertar comichões nos analistas sociais, incomodados com a fragilidade de uma revolução educacional feita às carreiras. Uma parte desse súbito mal-estar reside no fato de que educação, por aqui, é privilégio. Grassa uma falta de jeito do país em lidar com os limites entre a casa grande e a senzala. Passou da porta da cozinha, soa o alerta. Mas outra parte nasce de uma pródiga desconfiança: devagar com a carruagem. O santo é de barro. E haja ditado popular.

Aos fatos. A superação do magérrimo desempenho do ensino superior começou na década de 1990, quando o ministro Paulo Renato de Souza, da Educação, driblou a sovinice do governo FHC e fez um milagre sociocultural, cravando suas mãos na calçada da fama. Xô 4%.

O governo Lula veio na banguela e, desde esse dia, só o que se ouve é notícia sobre o assunto. A educação anda tão em pauta quando o tráfico, a pobreza, as mazelas do trânsito ou as fofocas de celebridades.

Nem sempre para bem. De um lado estão o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), o ProUni, as cotas sociais e o Fies, para citar quatro mecanismos surgidos para fazer mais jovens cruzarem os portais das universidades. De outro, um bolhetim talhado de notas baixas, desses que fariam pais e mães soltarem fogo pelas ventas.

Dos 7.329 cursos superiores avaliados pelo Enade, em 2009, quase 25% foram corrigidos com caneta vermelha. Seriam insuficientes até para gerir o antigo Mobral. Mais. De acordo com a última avaliação do Inep/MEC, em meio a 2 mil escolas superiores avaliadas no país, apenas 21 têm excelência, mais de 800 estão na média e cerca de 600 se encontram sob suspeita.

Some-se a essa lista digna de segunda época o desempenho capenga de muitas instituições de ensino a distância: nos dois últimos anos 5,6 mil foram descredenciadas pelo MEC, jogando água fria num mecanismo nascido para nos salvar da inércia dos 4%.

Detalhe. O Ministério da Educação – à revelia do encanto que o ministro Haddad lhe tem dado – tenta acertar o passo, mas volta e meia tropeça. E tudo indica que pode piorar. Estima-se que 9% dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos estejam na faculdade. É pouco – o ideal é 30%. O Plano Nacional de Educação, de 2001, previa que em 2008 haveria 30 milhões de universitários. A turma do Lula quer chegar lá. Aumentando a lista de chamada haverá mais caneteadas no boletim. É o que dá não estudar com a calma que a atividade exige.

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