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A 16.ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada na semana passada, serviu para mostrar que o esquema de corrupção não se restringe à Petrobras. A força-tarefa abriu uma nova frente de trabalho que mostra que condutas ilícitas envolvendo empreiteiras se estenderam também para empresas públicas do setor elétrico. Esse desdobramento da Lava Jato, que foi chamado de Operação Radioatividade, é mais uma das denúncias que vão se somando a cada semana, há mais de ano, desde que a Polícia Federal e o Ministério Público iniciaram as primeiras prisões em março de 2014. De lá para cá, as instituições vão pagando injustamente o preço dos atos de agentes políticos envolvidos nas denúncias do petrolão.

Explica-se. Parte da população abraçou fortemente a ideia de rejeição à política tradicional. Esse sentimento é, em grande parte dos casos, direcionado equivocadamente contra as instituições democráticas, em vez de ser canalizado aos indivíduos acusados na operação. Há até quem manifeste nas redes sociais saudade do regime militar e diga que as instituições perderam a credibilidade.

É necessário desfazer esse equívoco. Em primeiro lugar, é preciso separar as instituições dos agentes públicos e parlamentares que estão envolvidos direta ou indiretamente nas denúncias da Lava Jato. As instituições, felizmente, permanecem sólidas. São elas, neste exato momento, as responsáveis pela necessária correção de rumos nas estatais e no ambiente político brasileiro.

É preciso separar as instituições dos agentes públicos e parlamentares envolvidos nas denúncias da Lava Jato

O Poder Judiciário tem funcionado de forma exemplar, sem interferências indevidas de outros poderes. O mesmo pode-se dizer do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, cuja atuação conjunta tem apresentado resultados extraordinários. De forma semelhante, o Tribunal de Contas da União está prestes a apreciar as contas do governo federal sem se deixar levar por pressões de quaisquer natureza.

As acusações decorrentes da Lava Jato dizem respeito a políticos e a dirigentes de partidos, não aos poderes e órgãos da República. Ter isso em mente evita equívocos que são propagados pelos próprios acusados de envolvimento na Lava Jato.

Por outro lado, alguns comportamentos de importantes membros da classe política contribuem para confundir os cidadãos. O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusa o governo federal de ordenar ao Ministério Público que o incluísse nas investigações, como forma de vingança. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), chegou a afirmar que os métodos usados pela Polícia Federal estariam beirando a intimidação. A presidente Dilma Rousseff também dá sua quota de contribuição, atacando os acordos de delação premiada que foram ratificados pela Justiça.

Declarações como essas contribuem para dar a aparência de que o sistema democrático está em crise, quando, pelo contrário, ele está funcionando perfeitamente. A crise é de comportamentos individuais muito bem articulados, envolvendo lideranças partidárias, parlamentares e ocupantes de outros cargos públicos. A crise não é de instituições. O papel da sociedade é de apoiá-las, a fim de permitir que os esquemas de corrupção nas estatais sejam varridos do país, não para baixo do tapete.

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