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Com o voto de pouco mais de 3,3 milhões de paranaenses, ou 55,7% do total de votos válidos, o governador Beto Richa conquistou um segundo mandato. Nem o apoio de Dilma Rousseff a Gleisi Hoffmann, nem o recall dos oito anos de Roberto Requião no Palácio Iguaçu foram suficientes para que o eleitorado conduzisse um deles a um tira-teima com o governador. No entanto, o fato de haver um significativo contingente de eleitores que não escolheram Richa (ao contrário de sua reeleição para a prefeitura de Curitiba, quando ele conquistou 77% dos votos válidos) coloca um desafio a mais para o governador nestes próximos quatro anos: o de convencer mais da metade dos paranaenses de suas capacidades como gestor.

Um balanço dos primeiros quatro anos de Richa no comando do estado mostra como principal realização a superação de um período no qual o setor produtivo foi constantemente hostilizado por seu antecessor. Ao longo do mandato que se encerra em 31 de dezembro, o Paraná conseguiu atrair diversas indústrias, inclusive começando a vencer a tendência de concentrar as unidades fabris no eixo que vai de Ponta Grossa ao Litoral. Embora o estado tenha perdido algumas disputas importantes, como no caso da BMW, o saldo é inegavelmente positivo, contribuindo para diversificar a economia do estado. No entanto, é preciso ir além. A interiorização do parque fabril do estado – que contribuirá para gerar empregos e renda em áreas nas quais a pobreza ainda persiste – pode e deve avançar, mas para isso é preciso vencer o gargalo da infraestrutura, que encarece os produtos provenientes de várias regiões do Paraná e afasta investidores. A capacidade de execução precisa ser a marca não apenas do governador, mas também de seus colaboradores mais próximos ao longo desses quatro anos.

Um fator importante para o segundo mandato ainda não está definido. Neste nosso federalismo torto, em que a União tem a capacidade de estrangular estados e municípios, a relação com o ocupante do Palácio do Planalto tem muito peso. Essa relação, no primeiro mandato de Richa, ocorreu aos trancos e barrancos. Além disso, é preciso lembrar que seus adversários no pleito estadual seguirão em Brasília, seja no Senado, seja em algum outro cargo que possam vir a ocupar, se nomeados pelo vencedor do segundo turno. E Richa bem sabe que os ventos do Planalto Central podem trazer dificuldades, como se verificou especialmente na segunda metade de seu primeiro mandato. Isso só reforça a necessidade de um planejamento responsável para que obstáculos já conhecidos não voltem a emperrar o funcionamento da máquina estadual. Para tal, contribuirá muito o enxugamento da estrutura, especialmente em relação a comissionados que recebem demais para entregar muito pouco à população.

Por mais que candidatos à reeleição costumem usar o discurso segundo o qual precisam de mais quatro anos para "terminar o que começaram", segundos mandatos costumam ser piores que os primeiros pelo simples motivo de que, no segundo quadriênio, falta ao governante o estímulo pragmático do mandato anterior, de trabalhar bem para que o povo o mantenha no cargo. É um relaxamento que é comum, mas não deveria ser jamais encarado como normal. O desafio posto a Beto Richa é o de quebrar essa tradição, pois o Paraná lhe deu a chance de fazer muito pelo estado. Arrojo, senso ético – inclusive na montagem do secretariado – e gerenciamento responsável são as chaves para um segundo mandato bem-sucedido.

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