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Lula Meirelles
O ex-ministro Henrique Meirelles com Lula em ato com ex-presidenciáveis, ainda durante a campanha do primeiro turno.| Foto: Ricardo Stuckert/PT

Entre os economistas que podem ser considerados adeptos da responsabilidade fiscal, o primeiro a aderir à campanha de Lula à Presidência da República foi Henrique Meirelles, que ocupou o posto de presidente do Banco Central durante os oito anos do petista no Planalto, de 2003 a 2010. O fato de Lula não perder uma chance de atacar o teto de gastos, talvez a principal realização de Meirelles durante seu período como ministro da Fazenda de Michel Temer, não impediu que o apoio viesse antes mesmo do primeiro turno. Pois, ao que tudo indica, o primeiro a pular no barco lulista também será o primeiro a saltar dele.

Em palestra a clientes do banco BTG Pactual na quinta-feira, dia 10, Meirelles repetiu o que o próprio Lula dissera durante a campanha: que o então candidato não daria detalhes sobre a política econômica ou sobre a futura equipe econômica para não perder votos. “O Lula estava fechado, não dizia nada, não queria desagradar ninguém. Hoje [quinta-feira], começou a falar. Aí, ele começou a sinalizar uma direção à Dilma”, em referência a falas do petista na manhã de quinta, em reunião com parlamentares aliados em Brasília, quando o presidente eleito atacou políticas de responsabilidade fiscal. “Estou pessimista, não tenha dúvida”, acrescentou Meirelles, dizendo ver 65% de chances de um “Lula III” ser mais parecido com os governos de Dilma Rousseff, contra 35% de possibilidade de repetir o primeiro mandato do petista, quando o tripé macroeconômico herdado de FHC ainda foi respeitado. E concluiu: “só posso dizer uma coisa a todos vocês: boa sorte”.

Meirelles e os “pais do real” sabem que uma economia arrumada é o melhor meio de ajudar um país a crescer; sabem do mal que o desarranjo fiscal provoca na economia; e mesmo assim resolveram apoiar Lula

São razoavelmente muitos os brasileiros que não podem se declarar surpresos diante do desprezo de Lula pela responsabilidade fiscal. E Henrique Meirelles tem um lugar de destaque neste grupo dos que não têm como dizer “eu não podia imaginar”. Meirelles ainda presidia o Banco Central quando a “nova matriz econômica” começou a ser implantada, por mais que ela tivesse adquirido corpo apenas durante o governo Dilma, quando ele já havia deixado o BC. Meirelles foi chamado por Temer para a Fazenda justamente para consertar o estrago deixado pela política econômica de Dilma, política essa que Lula jamais repudiou. Meirelles viu e ouviu as críticas de Lula ao ajuste fiscal e ao teto de gastos. Mesmo assim, seguiu afirmando que “um eventual governo Lula vai priorizar as responsabilidades fiscal e social”, como fez em nota enviada à Gazeta do Povo em 19 de outubro. O mesmo fizeram Edmar Bacha, Pedro Malan, Armínio Fraga e Persio Arida ao anunciar voto em Lula no segundo turno, afirmando apenas que “nossa expectativa é de condução responsável da economia” – Fraga também já iniciou seu processo de distanciamento do governo eleito.

Estamos falando de pessoas com plena consciência de que uma economia arrumada, fiscalmente responsável, é o melhor meio de ajudar um país a crescer, com geração de emprego e renda; pessoas que sabem do mal que o desarranjo fiscal provoca na economia. E esse conhecimento não é apenas teórico, mas algo testado no Brasil real, algo que Meirelles, Bacha, Malan, Fraga e Arida viveram na pele como formuladores de política econômica. Mesmo assim, eles deram apoio incondicional a um público e notório defensor da gastança, sem exigir dele nenhum compromisso, na mera expectativa de que Lula caísse em si e, de repente, começasse a fazer a coisa certa. O apoio de economistas tidos como mais sensatos certamente serviu a Lula, mas agora o petista não precisa mais dele; quanto ao resto do país, que não se esqueça do papel a que tais economistas se prestaram durante a campanha, especialmente quando começarem a abandonar o navio fingindo que não tiveram nada a ver com o iminente naufrágio.

Meirelles, os que o ouviram na palestra do BTG e outros economistas que “fizeram o L”, como o quarteto de “pais do real”, não precisam de sorte. Eles têm patrimônio, além da informação e do conhecimento necessários para protegê-lo. Quem vai realmente pagar o pato se Lula repetir Dilma é o brasileiro pobre, que não consegue guardar dinheiro e verá seu poder de compra corroído pela inflação, isso se não acabar perdendo o emprego. Este precisará de mais que sorte para passar pela turbulência que a eventual irresponsabilidade fiscal de Lula irá causar: precisará de um verdadeiro milagre.

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