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Desde a confirmação de que o presidente Hugo Chávez está com câncer, a Venezuela vive dias de expectativa e incertezas. A principal dúvida é se o líder terá capacidade de vencer a doença e retomar o poder nos próximos meses. Outra questão, não menos preocupante, é se o presidente será capaz de levar em frente a campanha para a reeleição presidencial de 2012.

Os problemas decorrentes da doença de Chávez e a hipótese de seu afastamento, apesar de provocar impacto na oposição e nos setores da sociedade que não apoiam o governo, são maiores dentro do chavismo e da sua base de apoio.

Nos últimos 13 anos, o militar Hugo Rafael Chávez Frías, de 56 anos, governou a Venezuela com mão de ferro. Além de sufocar a oposição e monopolizar a maior parte dos veículos de comunicação, o criador da Revolução Bolivariana e do chamado socialismo do século 21 usou todas as armas para "reinar" absoluto.

No governo e no partido chavista – o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) – Chávez é onipresente e onipotente. O presidente não mediu esforços para anular qualquer "companheiro" que pudesse reunir condições de liderar e, teoricamente, rivalizar com ele.

O resultado do autoritarismo é que agora, com a ausência do mandatário e as suspeitas sobre a gravidade de sua doença, o grupo governista encontra-se desorientado. A cada dia fica mais evidente a falta de lideranças consolidadas no país.

Para muitos analistas, na hipótese de Chávez ser obrigado a deixar o poder, a Venezuela correria sério risco de enfrentar uma "guerra" nas fileiras do chavismo. Dos nomes mais conhecidos do grupo – o vice-presidente Elias Jaua, o chanceler Nicolás Maduro, o ministro de Energia e Petróleo, Rafael Ramirez, e o irmão do presidente, Adan, governador do estado de Barinas –, nenhum reúne hoje forças para comandar os aliados e manter a governabilidade.

Qualquer um que pretenda ficar com o espólio do chavismo precisa ganhar o respaldado do presidente e ser aceito pelos militares. E Chávez dá mostras claras de que não pretende indicar um sucessor, tanto que prefere continuar governando de Cuba, onde se encontra para tratamento de quimioterapia e radioterapia.

Na oposição, a doença de Chávez trouxe um grande dilema. Ao mesmo tempo que vislumbram a possibilidade do todo-poderoso presidente ter de deixar o cargo, os oposicionistas se debatem com o crescimento da popularidade do chefe da nação. Desde que o mandatário confirmou que foi submetido a uma cirurgia para extrair um tumor maligno, sua aprovação só aumenta, especialmente nas camadas mais pobres do país, a grande maioria da população. Segundo pesquisa do instituto GIS XII, divulgada no último dia 15, se houvesse eleições hoje, 54% dos venezuelanos votariam em Chávez, um aumento de cinco pontos na comparação com maio. E, apesar de praticamente não ter estado na Venezuela durante o mês de junho, 55% disseram aprovar sua gestão, contra 53% do mês anterior.

Outro problema é que, nesses anos todos, a oposição centrou seus discursos no chefe de Estado e pouco fez para consolidar novas lideranças. Quanto mais os oposicionistas insistiam em mostrar Chávez como vilão, mais o governo e seus partidários trabalhavam para transformá-lo em super herói.

Não é por menos que a oposição vem sendo acusada de estar "sofrendo uma síndrome de abstinência" diante da doença de Chávez. Isso sem falar nas divisões internas e a ausência de um líder único e forte nas fileiras que buscam confrontar o chavismo.

A fragilidade da oposição é tão visível que seus representantes nem mesmo conseguem questionar e convencer a sociedade da necessidade de o presidente passar o posto ao seu vice enquanto estiver em tratamento em Cuba.

O autoritarismo de Chávez, reforçado por uma liderança carismática e populista, torna imprevisível o futuro da Venezuela sem a presença do presidente. O cientista político da Universidade Central da Venezuela Nicmer Evans talvez tenha resumido o cenário atual do país: "Há uma Chávez-dependência, para bem e para mal, tanto no governo, como na oposição".

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