Ter o partido de maior bancada no Congresso Nacional como o principal aliado pode ser, em princípio, o sonho de consumo de qualquer governante, confiando que com isso garantirá folgada maioria para tocar seus projetos. Uma premissa com fundo de verdade, mas que em se tratando do PMDB não deve ser seguida sempre à risca, diante do histórico peemedebista, acostumado a valorizar o passe e exigir muito em troca do seu apoio. Essa é a realidade que a presidente Dilma Rousseff vem enfrentando desde o início de seu mandato e que desde então dá sinais de crescentes estremecimentos.

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No cerne da insatisfação está o que o PMDB considera um tratamento desigual no comparativo com o PT, que estaria sendo privilegiado com canais de acesso direto no Planalto, com a distribuição de cargos e recursos. Em ano eleitoral, os peemedebistas estão deixando claro que não estão dispostos a ceder mais terreno, temendo a perda de prefeituras sob seu comando para os candidatos do PT. A temperatura política em Brasília acabou elevando-se ainda mais com a elaboração, nesta semana, de um manifesto assinado por lideranças peemedebistas tornando público o inconformismo com a pouca atenção recebida do governo.

Para mostrar que o descontentamento é para valer, o partido surpreendeu ao liderar no Senado manobra que rejeitou, na quarta-feira, a recondução de Bernardo Figueiredo para a direção da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Pessoa da confiança da presidente Dilma, Figueiredo é um dos responsáveis pela elaboração do projeto do trem-bala, cuja licitação está prevista para sair neste ano. Nem mesmo a folgada maioria de que dispõe o governo no Senado foi suficiente para evitar que seu nome fosse barrado.

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O resultado da votação pegou de surpresa Dilma que agora terá de encontrar um novo nome para dirigir a agência e conduzir as negociações do projeto do trem-bala com a iniciativa privada.

A queda de braço do PMDB com o governo promete desde já outros desdobramentos no Congresso. De imediato está na berlinda a votação pela Câmara dos Deputados do novo Código Florestal. A matéria teve a tramitação adiada para a próxima terça-feira diante da falta de entendimento entre a bancada ruralista e o Planalto. Os representantes do agronegócio querem retirar do texto a obrigatoriedade da recuperação das áreas de preservação permanente quando objeto da exploração rural. Também cobram a volta da emenda que anistiava os desmatamentos nessas áreas, com o que Dilma não concorda.

A disputa por espaço travada pelos dois maiores partidos da base aliada também antecipa inevitáveis reflexos nas eleições de outubro próximo. Nacionalmente próximos, a expectativa é que nos estados o PMDB descole do PT e se junte à oposição em várias capitais e outras grandes cidades do país, o que pode acarretar novas tensões entre petistas e peemedebistas. Caminhando para concluir a primeira metade do seu mandato no final de 2012, a presidente Dilma Rousseff terá a partir do próximo ano a difícil incumbência de reagrupar as suas forças políticas. Estará em jogo então o pleito de 2014, quando deverá concorrer à reeleição e necessitará para tanto de uma base sólida de apoio.