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Embora o Banco Central brasileiro tenha endossado previsões otimistas sobre crescimento do PIB e queda da inflação, o cenário externo não autoriza otimismo consistente. Antes assinala que o longo ciclo de expansão global pode estar chegando ao término, com a janela de oportunidades se fechando depois de espalhar prosperidade no mundo desenvolvido e beneficiar países emergentes numa escala sem precedentes.

Nesse sentido, o BIS – banco central dos bancos centrais – acaba de reunir os banqueiros reguladores dos principais países para alertar sobre o risco embutido na liquidez mundial, propiciada por inúmeros fatores. Essa situação levou os mercados financeiros a uma ciranda de valorização dos preços de bens e outros haveres que o BIS não ancora na realidade, e que, uma vez rompida, pode desencadear uma crise geral. O relatório lembra de ciclos anteriores – inclusive a crise asiática ocorrida há exatos dez anos –, advertindo que por trás desse processo pode se esconder uma inflação diferente das anteriores, a inflação de ativos.

Martin Wolf, respeitado analista britânico, observou que a redefinição da economia trazida pela globalização traz oportunidades, mas também riscos, sendo o principal deles o descolamento dos ativos em relação aos produtores de longo prazo. É que a criatividade dos agentes econômicos ensejou uma multiplicidade de produtos financeiros, que ampliada por facilidades de comunicação, redução de garantias e ousadia de operadores valorizam investimentos de forma expressiva sem que tal aumento de ganhos se traduza em preço de bens e serviços medido pelos sistemas usuais de apuração.

A reversão do quadro resultaria em retração dos empréstimos fáceis, da venda de imóveis e do lançamento de papéis nos mercados – como já começou a ocorrer nos Estados Unidos. De fato, naquele país houve queda na produção de insumos industriais e de bens duráveis, o crescimento foi menor e a inflação subiu. Com isso, o Banco Central americano, embora mantendo inalterada a taxa de juros básicos, sinalizou que pode aplicar um "puxão" no indicador para evitar uma bolha financeira.

Entre nós, o risco de uma desaceleração brusca está mais afastado devido às mudanças que fortaleceram a economia: acumulação de reservas geradas por expressivos saldos de exportação e fluxo de investimentos, mais valorização da moeda, reduzindo a dívida externa; além de gestão prudente pelo Banco Central e consolidação do mercado interno. Mesmo assim, a globalização, ampliando a interdependência das nações, pode acarretar repercussões maiores do que as verificadas em ciclos anteriores.

Uma demonstração dessa realidade é a atual "inflação do leite": o produto, de consumo geral, vem tendo seu preço majorado devido à escassez registrada na Austrália, Nova Zelândia e outras regiões em função de crises climáticas. Com os ventos frios de um inverno econômico soprando do Hemisfério Norte, a cautela recomenda a busca de agasalhos para proteção das economias ainda emergentes como a nossa.

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