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O presidente Lula durante discurso na 78º Sessão da Assembleia Geral da ONU
O Itamaraty, sob a gestão de Lula, não mencionou o Hamas em nenhum momento, nem se referiu a ele como grupo terrorista.| Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

Encerramos nosso editorial de segunda-feira manifestando a necessidade de “a comunidade internacional se unir em torno da condenação firme àquilo que é intolerável”. Felizmente, boa parte das nações do mundo, ao menos no que diz respeito ao Ocidente democrático, não hesitou em condenar veementemente o covarde e bárbaro terrorismo do Hamas, que no fim de semana fez centenas de mortos em Israel. Já o Brasil de Lula, mais uma vez, como já vinha fazendo no caso da guerra na Ucrânia, não se mostrou à altura.

Em suas mídias sociais, no sábado, o presidente da República se declarou “chocado com os ataques terroristas realizados hoje contra civis em Israel”; Lula omitiu o nome da organização responsável pelos ataques, mas, de certa forma, a menção ao Hamas está implícita; afinal, os terroristas em questão só poderiam ser os extremistas palestinos. Mais tíbio foi o Ministério das Relações Exteriores, que, em nota emitida na manhã de sábado, não chegou nem mesmo a usar o termo “terrorismo”; só foi empregar a palavra “atentados” nesta terça-feira, após a confirmação das mortes de dois brasileiros, ambos vítimas do Hamas; de resto, menciona apenas “últimos desdobramentos do conflito israelo-palestino”.

Neutralidade não pode ser confundida com omissão, muito menos com o recurso a uma enganosa equivalência moral. Lula e o Itamaraty ficaram aquém da resposta esperada a uma barbárie como a cometida pelo Hamas

É verdade que poderia ter sido muito pior. Lula poderia ter seguido alas da esquerda brasileira que demonstraram toda a sua degradação moral nos últimos dias. Em vez de condenar o terrorismo, vários influenciadores, jornalistas e políticos direcionaram suas críticas apenas a Israel enquanto exaltavam o Hamas, usando termos como “resistência”. A deputada estadual Luciana Genro (PSol-RS) chegou ao cúmulo de fazer uma abjeta comparação entre a barbárie do fim de semana e o levante judeu no Gueto de Varsóvia, em 1943. Lula poderia, ainda, ter imitado alguns colegas latino-americanos como o colombiano Gustavo Petro, que chamou os israelenses de “neonazistas”. Não o fez e merece crédito por isso.

Mas, por outro lado, o brasileiro perdeu a chance de responder à situação com a ênfase que ela exigia. E há exemplos latino-americanos que Lula poderia ter imitado. O chileno Gabriel Boric demorou para se pronunciar e também criticou o que considera uma resposta desproporcional de Israel, mas afirmou na rede X (o antigo Twitter) que “condenamos sem reservas os brutais atentados, assassinatos e sequestros do Hamas. Nada pode justificá-los, nem se pode relativizar o mais enérgico repúdio”. Na Argentina, que já viveu na pele o terrorismo islâmico em 1994, o presidente Alberto Fernández usou a mesma rede para dizer que “repudiamos veementemente o ataque atroz que o Hamas perpetrou contra o povo israelita no sul do seu país”, e acrescentar que providenciou “o envio imediato de ajuda humanitária a Israel para apoiá-los neste momento difícil”.

O que Lula e a chancelaria brasileira parecem não compreender é que uma condenação firme, enérgica, sem meias palavras, sem omissões, chamando à responsabilidade os autores assumidos do terror, não é incompatível com a defesa do modelo de dois Estados, nem com a crítica a políticas do atual governo israelense – como a expansão irresponsável de assentamentos na Cisjordânia e os poucos esforços de Benjamin Netanyahu para solucionar a questão palestina –, nem com o repúdio a uma reação desproporcional de Israel que leve à morte de civis palestinos inocentes. É preciso, sim, mencionar explicitamente os responsáveis pela barbárie, reconhecer o direito de Israel a se defender de forma proporcional contra a ameaça do extremismo islâmico, e compreender que o Hamas não está nem um pouco interessado na paz, e sim no extermínio do Estado de Israel. Lula e o Itamaraty ficaram aquém disso.

Isso é muito pouco para uma nação que sonha em ter relevância internacional. Neutralidade não pode ser confundida com omissão, muito menos com o recurso a uma enganosa equivalência moral, como tem ocorrido no caso ucraniano e que o chanceler brasileiro de facto, Celso Amorim, invocou neste fim de semana em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. Não basta a Lula e ao Itamaraty serem apenas um pouco mais dignos que o restante da esquerda nacional; se quiserem que o Brasil seja respeitado internacionalmente, ainda precisarão melhorar muito.

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