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O Brasil tem tudo para dar certo – mas como é difícil! Veja-se aí a presente crise em torno do abastecimento do álcool combustível – uma alternativa legitimamente tupiniquim ao petróleo escasso e caro e que se apresenta como a grande fonte capaz de mover a nossa própria frota de veículos e a de inúmeros outros países mundo afora. No entanto, são tantas as incertezas provocadas pela histórica desatenção governamental às potencialidades oferecidas pelo álcool que cresce o risco de o país perder a condição estratégica de manter-se como o seu grande fornecedor global.

Enquanto até meados do ano passado a produção se mantinha abundante e o preço, baixo – algo como 70 centavos por litro nas destilarias –, ninguém do governo se lembrou da conveniência de formar estoques capazes de assegurar a regularidade do abastecimento e dos preços na entressafra. A entressafra chegou, o produto ficou escasso, a irrevogável lei da oferta e da procura funcionou e o inevitável se refletiu na bomba: os preços subiram.

Diante do problema, que assumiu contornos mais críticos no início do ano, o governo tentou enfrentá-lo com uma solução absolutamente heterodoxa e ineficaz. Chamou os usineiros e lhes propôs que vendessem o produto a um preço único e máximo de R$ 1,05 o litro – patamar que evitaria o aumento no preço final da gasolina. Na prática, o governo estava oficializando a condenável e atrasada prática do cartel. E na prática também, como se viu em seguida, não estava resolvendo a questão.

Por um motivo singelo: vivemos uma economia de mercado e globalizada. É impossível obrigar qualquer empresário a limitar seus ganhos numa ponta se ele, na outra ponta, pode ganhar mais. Então, por que entregar o álcool a R$ 1,05 ao mercado interno se há importadores dispostos a pagar R$ 1,20? Ou por que produzir álcool se o açúcar, proveniente da mesma matéria-prima, é mais lucrativo? É claro que só poderia dar a lógica: as exportações de álcool e de açúcar se mantiveram crescentes e o mercado interno se tornou presa do desabastecimento e dos preços altos!

A fieira de "soluções" desesperadas continuou. Uma resolução baixou para zero a alíquota de importação de álcool, uma medida que teoricamente estimularia a contenção dos preços se não fosse completamente inócua, pelo simples motivo de que ainda não há outros exportadores interessados em nos vender a preços mais baixos. Por fim, outra "solução": reduzir de 25% para 20% o índice de mistura à gasolina, o que acaba tornando-a mais cara.

Ou seja: toda a luta para evitar o impacto do preço do álcool sobre o da gasolina dará em absolutamente nada. O consumidor final é que vai, mesmo, pagar a conta da imprevidência governamental.

A mais alta conta, no entanto, arrisca-se a pagar a sociedade brasileira como um todo. O país mostra-se ao mundo como um mau gestor da produção e, portanto, não inspira confiança quanto à manutenção da imprescindível regularidade de fornecimento ao mercado externo. Em tempos de luta mundial contra a poluição do petróleo e de aumento da demanda pela alternativa do álcool, tudo o que os importadores potenciais – o Japão, por exemplo – querem é que o Brasil lhes seja um fornecedor mais confiável e seguro e que os liberte do jugo do perigoso cartel do petróleo.

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