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A imprensa registra que, se reeleito, o presidente Lula pretende imprimir mudanças na política externa, para ajustar a diplomacia ao novo cenário internacional. O objetivo seria melhorar os resultados, a partir de reaproximação com blocos e países de comércio mais ativo com o Brasil, sem desmontar a teia de relações com nações emergentes ou em desenvolvimento do eixo Sul–Sul.

Um primeiro elemento visaria a evitar perdas no relacionamento comercial com os Estados Unidos e União Européia, que estão em processo de revisão dos respectivos regimes de preferência. Embora o volume de mercadorias exportado para o mercado norte-americano ao abrigo do Sistema Geral de Preferências não seja representativo, a perda das vantagens de país em desenvolvimento teria impacto sobre nossa capacidade de competir nessa faixa de produtos.

De forma igual, a diplomacia do Itamaraty quer se reaproximar dos europeus, preocupada em aparar danos com a nova classificação que a Comissão de Bruxelas prepara sobre países de desempenho insatisfatório no combate à pirataria. Ao investirem contra práticas que consideram desleais, os europeus reforçam a fortaleza comercial, a partir da qual disputam posições de mercado e influência com os Estados Unidos.

De fato, só o vasto agregado de 25 países associados e mais de 400 milhões de habitantes com um PIB conjunto de mais de 10 trilhões de dólares tem condições de competir com o colosso norte-americano. Um exemplo desse equilíbrio de gigantes foi o acordo para relaxar o controle de dados pessoais dos passageiros de vôos europeus para os Estados Unidos.

Em termos geopolíticos, outros parceiros à altura do governo de Washington, Rússia e China, acabam de neutralizar a tentativa de retaliação contra o governo da Coréia do Norte, a propósito da aventura nuclear daquele país. Ditador ou não, Kim Jong-il se alinha com as duas potências ex-comunistas, que cuidam de protegê-lo enquanto aconselham moderação ao pupilo rebelde.

Essa visão de "Realpolitik" faltou à diplomacia brasileira no atual governo, com sua ênfase em alinhamento com nações emergentes etc, cujos escassos resultados se tornam evidentes: perda de posições ambicionadas no Conselho de Segurança da ONU, direção da OMC e Banco Interamericano; reconhecimento unilateral da China como economia de mercado e esvaziamento do Mercosul; fracasso da rodada Doha, entre outros.

Ainda agora, parceiros preferenciais se defrontam com problemas: na Venezuela, Chávez perde receita com a queda na produção do petróleo após desviar recursos da área para projetos políticos. Na Bolívia, o novato presidente Morales, após forçar uma "refundação", enfrenta resistência das províncias orientais, vê a produção de gás e petróleo caindo por falta de investimentos e assiste a seus próprios apoiadores se chocando até a morte numa sociedade que marcha para o caos.

Após colher insatisfações, o governo viu a conveniência de ajustar a rota, em processo a ser implantado num eventual segundo mandato. Não alcançada a reeleição, a lição aproveita para outros formuladores da política externa do Brasil.

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