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Dias depois de se convencer de que a crise financeira internacional não era a "marolinha" que imaginara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva percebeu que era hora de se prevenir contra o agravamento dos efeitos da borrasca que já derrubou a bolsa brasileira, agitou o dólar, estancou as exportações e ainda ameaça os bancos, inibe os investimentos do governo, amedronta os empresários e fecha postos de trabalho. Segundo o presidente, porém, este pacote de más notícias não deveria ser enfrentado com um pacote de medidas – mas com providências pontuais, caso a caso. "Se o médico diz que você precisa tomar 20 injeções para se curar, você não precisa tomar todas de uma vez só", argumentou metaforicamente na semana passada para defender a tese da gradualidade que adotou.

Entretanto, tantas foram as medidas pontuais tomadas que, em seu conjunto e pela sua rápida sucessão, quase lembram um daqueles velhos pacotes que administrações passadas costumavam tirar da cartola para embrulhar a opinião pública – com a grande e visível diferença de que, agora, todas parecem obedecer a uma lógica econômica consistente e capaz de aliviar os sintomas mais agudos e imediatos da crise – principalmente o de evitar o pânico e manter um nível mínimo de tranqüilidade que o momento exige.

A mais recente providência incluída no coquetel receitado pela área econômica data de anteontem. Trata-se da Medida Provisória 443 que dá ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal a competência para comprar bancos em dificuldades decorrentes da crise de liquidez. Instituições de pequeno porte ganham, assim, um guarda-chuva de proteção contra intempéries mais fortes que possam surgir, ao mesmo tempo em que investidores e correntistas não precisam sentir urgência em correr aos guichês para sacar suas economias para protegê-las debaixo dos colchões.

A edição dessa MP – deixou claro o ministro da Fazenda, Guido Mantega – não significa o admissão, por parte do governo, de que o sistema bancário nacional esteja caminhando para o precipício, como ocorreu nos Estados Unidos e Europa com grandes e tradicionais instituições. Lá, os governos decidiram comprar ações ou mesmo estatizar bancos já em estado de insolvência. Aqui, a mesma estratégia está sendo adotada, mas com sentido preventivo, isto é, antes da aproximação mais perigosa das nuvens de um eventual pânico.

Trata-se, pois, de manter a calma dos mercados e, sobretudo, de garantir a fluidez do crédito, condição essencial para o desempenho da economia em níveis aceitáveis. Têm o mesmo objetivo de evitar o agravamento dos reflexos da crise internacional outras medidas já anunciadas pelo governo, dentre as quais se destacam a liberação suplementar de recursos creditícios para os setores agrícola e da construção civil – dois grandes empregadores de mão-de-obra e, sobretudo, capazes de multiplicar seus efeitos sobre a área social e sobre outros setores da economia.

O governo tem agido no momento certo e com soluções bem vistas pelos analistas e pelo mercado, mas o país, ao contrário da "marolinha" com que a crise era inicialmente encarada, não está passando incólume por ela. Basta lembrar que 10% das preciosas reservas internacionais de US$ 200 bilhões que o Brasil acumulou já foram sacados para manter o câmbio sob relativo controle.

Agora, resta-nos esperar por novas ameaças. E por novas medidas que, pontualmente, sejam anunciadas. Ameaças e medidas serão sempre um teste para os nossos limites. A todos os brasileiros vale o bordão novelesco: muita calma nessa hora.

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