O Congresso Nacional começa este ano legislativo com uma pauta de votação repleta de projetos importantes encaminhados pelo governo federal. O governo quer votar a inclusão de 600 mil novas famílias no programa Bolsa Família, a Conso­­lidação de Leis Sociais (CLS), os projetos do Pré-Sal, o que inclui a criação de uma nova estatal e um regime de distribuição de royalties, entre outras propostas. São matérias que exigem debate aprofundado dos parlamentares. Mas haverá menos de seis meses para isso. A partir de julho, senadores e deputados federais devem abandonar Brasília em virtude da campanha para as eleições de outubro.

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Em ano de eleições federais, os parlamentares ficam concentrados em sobreviver na política, relegando os interesses nacionais a segundo plano. Ficam também muito sensíveis à pressão de sindicatos e categorias profissionais, inclinados em aprovar quaisquer projetos que possam lhes render votos.

Tentando diminuir a resistência da oposição para aprovar seus projetos, o governo federal também pode usar o ano eleitoral como objeto de persuasão. Esse é o caso do projeto da Consolidação de Leis Sociais. O presidente Lula pretende consolidar em um único documento seus programas sociais, como o Bolsa Família e o Saúde da Família. Assim, quer transformar seus programas de governo em políticas de Estado.

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A oposição classifica a proposta de eleitoreira por entender que já tramitam projetos semelhantes no Congresso e que a CLS será usada como uma marca petista nas eleições de outubro. Ao mesmo tempo, fica em uma posição delicada. É difícil ir contra propostas que beneficiam as classes C, D e E sem se tornar antipático a ela.

Porém, o debate não deveria estar concentrado nas eleições deste ano. Ao invés de se discutir o uso político de projetos que tramitam no Congresso, os parlamentares deveriam estar discutindo a utilidade deles para a sociedade. Deveriam questionar, por exemplo, se as políticas implantadas pelo governo Lula são as melhores possíveis. Ou então se é prudente consolidar todas as leis sociais em um único documento.

Com apenas seis meses para discutir uma série de projetos importantes, é difícil imaginar que haverá discussão. Atropela-se o debate de assuntos que repercutirão profundamente na vida da população em função de interesses político-partidários. Prática nociva para a de­­mocracia.

O Congresso Nacional não pode funcionar seis meses no ano porque parlamentares vão concorrer nas eleições. Até porque os parlamentares não deixarão de receber salários e verbas indenizatórias no restante do ano. Uma das principais funções do Congresso é fiscalizar a atuação do Poder Executivo, o que significa analisar de forma aprofundada os projetos encaminhados pelo governo federal. E mais uma vez o exercício dessa função deverá ficar prejudicado pela disputa eleitoral.