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E a história se repete: assim como ocorreu há pouco mais de uma década, defrontamo-nos com uma nova crise de abastecimento do álcool combustível – a mais promissora e limpa fonte de energia para mover a frota mundial de veículos, teoricamente capaz de colocar o Brasil na vanguarda da solução tão buscada para livrar o planeta da dependência quase exclusiva dos caros, escassos e politicamente instáveis derivados de petróleo.

Lembremo-nos do primeiro episódio dessa história. Nos anos 70, diante de dois choques de preço do petróleo decorrentes de guerras no Oriente Médio, o Brasil desenvolveu tecnologia própria e lançou o Proálcool, programa governamental de incentivo à produção em escala do novo combustível substituto da gasolina. No início dos anos 90, no entanto, quando 80% dos automóveis brasileiros já eram movidos a álcool, o governo abandonou o programa. Em pouco tempo, milhões de carros passaram a fazer fila nos postos; outros tantos simplesmente tinham de ser deixados na garagem por não haver álcool suficiente para abastecê-los.

O Proálcool caiu, assim, no descrédito junto ao consumidor e as montadoras deixaram de fabricar automóveis a álcool. Destilarias foram fechadas, milhares de empregos foram extintos. Não se deu importância ao fantástico balanço de benefícios econômicos e ambientais resultantes do programa: em duas décadas, o Brasil deixou de importar 550 milhões de barris de petróleo, economizando 11,5 bilhões de dólares, e deixou de poluir a atmosfera com 110 milhões de toneladas de dióxido de carbono.

Apesar disso tudo, o país de novo submeteu-se ao predomínio da gasolina. Faltou-lhe visão estratégica. Não percebeu que, ainda que as cotações do petróleo se mantivessem suportáveis e que caminhássemos para a auto-suficiência, o etanol derivado da cana-de-açúcar deveria continuar sendo, sob inúmeros aspectos, uma importante alternativa. De um lado, por se constituir num cobiçado produto de exportação, atendendo à perfeição aos objetivos das nações ricas de reduzir sua dependência do petróleo árabe e de diminuir os níveis de poluição; de outro, por deter alta potencialidade para promover a expansão do agronegócio, para gerar riquezas e criar postos de trabalho no interior do país.

E por não termos compreendido a importância estratégica do álcool, estamos agora diante do segundo episódio desastroso da crise que o envolve. O governo parece não ter-se dado conta da necessidade de reinaugurar uma política nacional de incentivo à produção em razão da existência de pelo menos dois claros fatores: o acelerado crescimento do consumo interno nos últimos anos e o aumento da demanda por parte dos países interessados em libertar-se da dependência do petróleo.

Por causa dessa falta de visão, o governo deixou de diligenciar para a formação de estoques reguladores, de modo que pudessem ser evitadas a ameaça de escassez e a explosão de preços nas bombas, como está se dando agora. Mais grave do que as perdas impostas ao consumidor, é o prejuízo em confiança e credibilidade que se produz. E este é mais difícil e mais caro de ser superado.

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