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Uma resolução baixada no fim da tarde de ontem pelo diretório nacional do PSDB invalidou o resultado da convenção paranaense. Por este ato, devolveu ao partido a lucidez que havia perdido ao aprovar, em sua convenção de quinta-feira à noite, a bisonha coligação com o PMDB do governador Roberto Requião.

O miúdo interesse pessoal de alguns e o velho hábito do fisiologismo que infecta a política brasileira estiveram próximos de derrotar a história do partido e atropelar o mínimo de bom senso e de coerência política que a opinião pública espera do PSDB paranaense. A convenção regional tucana, apesar da magra maioria de apenas cinco votos, havia formalizado a aliança. Em troca, ganhariua a vaga de vice na chapa e um provável – mas nunca garantido – apoio à candidatura presidencial de Geraldo Alckmin e à reeleição de Alvaro Dias para o Senado.

O grande vitorioso e maior beneficiário desse teatro do absurdo, ensaiado durante meses, seria o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Hermas Brandão, a quem, agradecido, o PMDB destinaria a vaga de candidato a vice-governador. Articulou-se bem com expoentes do Palácio Iguaçu e, com o apoio da maioria dos deputados que compõem a bancada tucana na Assembléia, conseguiu levar os votos de 205 convencionais para sua causa pessoal. Outros 200, porém, manifestaram-se contra, preferindo endossar, ainda que informalmente, a candidatura do senador Osmar Dias, do PDT.

Não havia nenhuma grandeza política nessa tentativa. Seria suprema insensatez o partido que lidera a oposição em nível nacional, terçando forte combate ao presidente Lula e com candidato próprio à Presidência da República, portar-se no Paraná de modo contrário. Aqui, se não tivesse ocorrido a impugnação, o PSDB ofereceria prestígio político e doaria o tempo de que dispõe na propaganda gratuita para Requião, declarado adversário ideológico de Geraldo Alckmin, com quem, aliás, nunca se disporia a dividir palanque.

Próximo de Lula, a quem deve a eleição para o governo paranaense em 2002 e com quem pactua sólida devoção chavista, Requião é a própria antítese do PSDB. Neste sentido, aliás, tem sido sempre muito coerente – até porque, pela cartilha populista e autoritária de Hugo Chavez, o importante é conquistar as maiorias, independentemente dos métodos ou das convicções. Daí o esforço que despendeu para atrair os tucanos mais maleáveis para suas hostes.

Deu-se a ala momentaneamente vitoriosa do PSDB paranaense a esse jogo. Submeteria a legenda ao jugo do adversário local para valer-se da conhecida Lei de Gerson, aquela máxima amoral segundo a qual o importante é tirar vantagem em tudo. Como a aproximação com Requião lhe parecia mais vantajosa, quer pelas aparentes possibilidades de vitória, quer pelos cargos que lhe eram oferecidos, o grupo não teve dúvida nem pejo em promover a esquisita aproximação.

Felizmente, a direção nacional do PSDB percebeu a tempo o prejuízo, mais moral do que político, que o diretório estadual estava prestes a impor à sigla, com graves reflexos para o projeto nacional. A resolução baixada ontem restabelece a devida ordem na casa. Baixou as cortinas e anunciou o fim do teatro do absurdo que agredia o bom senso e a coerência que a platéia eleitoral exige como requisito mínimo dos atores.

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