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Grandes eventos vivemos nos últimos dias: o Brasil perdeu a Copa, o quadro de candidatos se completou e a campanha presidencial está oficialmente nas ruas. Além das lágrimas pela eliminação da seleção, o que mais se vê, o que mais se ouve? Quase nada. Caímos de novo no vácuo das incertezas, agora em relação ao Brasil real e não mais em relação àquela decepcionante pátria de chuteiras que atuou nos verdes gramados alemães. O vácuo decorre da falta de resposta por parte dos presidenciáveis a uma pergunta simples: que país eles pretendem legar à posteridade após os quatro anos de mandato que pleiteiam?

Quem sabe a propaganda eleitoral gratuita no rádio e tevê, a partir de agosto, venha a preencher essa natural curiosidade do eleitorado, essencial para uma consciente tomada de decisão sobre quem votar. Por enquanto, o debate que se estabeleceu entre os candidatos não passou de um pobre troca-troca de frases feitas, destinadas mais a espicaçar os adversários do que a apresentar propostas com começo, meio e fim – isto é, um conjunto coerente de políticas públicas e projetos estratégicos para tirar o país da indefinição quanto ao seu destino.

Um exemplo da vacuidade de propostas se dá em relação a uma das áreas fundamentais da economia nacional, a agropecuária. Sem exceção, nenhum candidato até agora fez qualquer manifestação consistente sobre como tirar o setor da mais grave crise de sua história. Como se isto não fosse importante, todos parecem ignorar que o êxito do mandato que disputam e o futuro do país a longo prazo dependem pesadamente da recuperação e do fortalecimento do campo.

Ignoram que a dívida acumulada pelos produtores rurais nos últimos dois anos já equivale à metade do valor da próxima safra. Ignoram que área de plantio estimada para a safra de verão deste ano será quase 20% menor do que a de 2003. Ignoram que o país dia a dia perde competitividade e mercado para suas principais commodities; que se aguçam os problemas sociais em decorrência do desemprego e do empobrecimento do interior; que toda a cadeia do agronegócio, o que inclui a indústria de máquinas e implementos, encolhe e se afunda na retração. E ignoram que, por conta de tudo isso, ficam comprometidos outros importantes fundamentos da economia, como o controle da inflação, as políticas cambial e de juros, os saldos da balança comercial, o equilíbrio fiscal, o crescimento do PIB...

É inconcebível que ninguém tenha até agora colocado este tema em discussão, apresentado propostas. Parecem, de fato, não só desconhecer as enormes deficiências do Brasil no campo da política agrícola como também o que fazer para superá-las. E que depende do que se fizer nos próximos três ou quatro anos para que o país de fato se consolide como o maior produtor mundial de alimentos.

Os produtores rurais, acossados pela dívida catastrófica que acumularam e, sobretudo, pela falta de rumo a seguir, esperam que em algum momento surja a luz.

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