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O bolivarianismo está sendo levado às últimas conseqüências na Bolívia, país que tem como presidente Evo Morales, o mais fiel e radical discípulo do formulador dessa estranha ideologia, o seu colega venezuelano Hugo Chávez. A mais recente incursão de Morales no sentido de aplicar integralmente o pensamento chavista – uma espécie sincrética que mistura socialismo marxista com populismo de republiqueta –foi feita semana passada, quando entregou ao parlamento o documento "Propostas do Poder Executivo à Assembléia Constituinte".

Nesse documento, Evo Morales propõe fortes restrições à propriedade privada, transferindo para o Estado todas as terras e todos os recursos naturais. Cria também um órgão constitucional autônomo, controlada pelo seu partido (o MAS), cuja função será a de controlar os demais poderes da República. Os povos indígenas ganharão status de autodeterminação e deverão ser consultados cada vez que estiverem em discussão questões relativas à prospecção e exploração de recursos naturais em suas áreas de domínio.

Esta é a Bolívia a que quer chegar Morales. Não se sabe se conseguirá, dados o antagonismo de outras forças políticas tradicionais e conservadoras que operam há séculos no país e a historicamente recorrente participação militar e golpista nos seus destinos. Qualquer que seja, porém, o resultado final do embate, o certo é que a Bolívia não trilha atualmente por bom caminho.

O contencioso com o Brasil é, neste sentido, emblemático. O centro da disputa entre os dois países está inscrito num dos principais dogmas da ideologia bolivariana – isto é, o monopólio estatal sobre os recursos naturais e sobre os meios de produção. Com base nele, confiscou as instalações da Petrobrás e forçou a renegociação dos contratos de fornecimento de gás ao Brasil.

Não se discute a soberania dessa decisão. Morales a exerceu no limite o uma prerrogativa internacionalmente reconhecida. Ao mesmo tempo, porém, independentemente de qualquer aspecto de natureza política ou ideológica, o Brasil está muito perto de tornar-se auto-suficiente na produção do combustível e, portanto, livre de qualquer novo achaque do presidente boliviano. É bom para o Brasil, mas certamente será péssimo para a Bolívia, que acabará perdendo o principal cliente de sua maior riqueza legal – a outra, ilegal, é a produção e exportação de cocaína.

Atrelado a Hugo Chávez, de quem recebe mesada financiada pelos petrodólares venezuelanos, Evo Morales está se colocando à margem também de uma outra promissora frente nascente na América do Sul e Caribe – a frente da substituição do petróleo pelos biocombustíveis, especialmente o etanol derivado da cana-de-açúcar.

Em poucos anos, os países que aderirem à alternativa de produzir etanol estarão adiante daqueles que dominam exclusivamente a exploração dos combustíveis fósseis, como é o caso da Bolívia e de seu patrocinador, a Venezuela. Prevê-se, por exemplo, que em duas décadas o Brasil estará apto a responder por mais de 10% da energia que o mundo demanda – um baque tremendo para a economia petrolífera.

Estas poucas inferências em relação ao futuro são suficientes para confirmar a sensação de que, lamentavelmente, Evo Morales e sua política bolivariana na verdade estão estreitando as perspectivas de redenção da pobreza de seu sofrido país. A nova constituição pela qual propugna apenas aprofunda esta sensação.

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