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A eleição presidencial que terá lugar amanhã, no Peru, representa um divisor de águas entre a democracia e o populismo; a primeira representada pelo candidato liberal Alan García e a segunda pelo radical Olanta Humala. García, um ex-presidente que governou de forma perdulária no passado, agora incorpora as virtudes clássicas do dirigente amadurecido nas "regras do jogo" do pluralismo político, enquanto o ex-militar Humala simboliza o neopopulista latino-americano – apoiado em grupos indígenas e nacionalistas que enxergam em cada interlocutor estrangeiro um inimigo potencial.

O complicador nessa eleição foi a intromissão do presidente venezuelano Hugo Chávez, que já apoiara na Bolívia a eleição do líder indígena Evo Morales – o mesmo que nacionalizou as operações da Petrobrás em petróleo e gás – e acaba de retornar do Equador, onde incentivou o governo local a desapropriar empresas estrangeiras. Com a retórica agressiva em apoio ao candidato esquerdista Humala contra García, Chávez acabou se indispondo com o atual presidente Alejandro Toledo e, através dele, com a opinião pública peruana.

O vendaval protagonizado por Chávez acabou funcionando como fator contrário ao desejado, enfraquecendo a candidatura do ex-militar Olanta Humala e agora todas as pesquisas dão vitória ao ex-presidente García. Este atacou a ingerência do dirigente venezuelano, afirmando que no pleito "está em jogo o destino democrático da América do Sul"; assegurando que em vez da "tentação totalitária" prefere se alinhar aos governos de esquerda pragmática do Brasil e do Chile.

De fato, a onda neopopulista que incorpora uma estratégia defensiva do continente em face da globalização gerou reaproximação entre Chile e Brasil. Em visita a Brasília, o ministro chileno do exterior, Alejandro Foxley, enfatizou a aliança política para sinalizar "que há sistemas democráticos viáveis, possíveis e eficazes" na região. Para o professor Francisco Panizza, da Escola de Economia e Política Social de Londres, "o populismo surge como conseqüência de uma crise de legitimidade das instituições políticas"; que ocorrem "quando uma grande parcela da população não se sente representada pelos partidos políticos e o Estado, fraco e corrupto, não consegue resolver demandas sociais acumuladas".

A opção pela modernidade responsável é possível: a reeleição do presidente Uribe na Colômbia, o pleito de amanhã no Peru, mais a próxima definição do México, assinalarão os rumos do continente, porque – como advertiu o ministro chileno – hoje a competição não ocorre entre empresas ou países, mas entre regiões dinâmicas como o Leste da Ásia, a Europa, a América do Norte; sendo hora de a América do Sul encontrar seu lugar no mundo, com partidos políticos fortes, Estados razoavelmente eficientes e políticas públicas voltadas para o crescimento e bem-estar da população.

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