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Depois de seis meses de escaramuças entre tropas rebeldes e forças leais ao governo, o regime do ditador líbio Muamar Kadafi parece que caminha inevitavelmente para os seus estertores. No domingo, os insurgentes avançaram rumo ao centro da capital, Trípoli, naquela que pode ser a ofensiva final para apear do poder uma das ditaduras mais longevas do mundo, que perdura há 42 anos. Segundo observadores militares, apenas nos últimos confrontos foram estimadas em 1.300 as mortes, que superam o número de 3 mil desde o início das manifestações pela derrubada de Kadafi. Diante do cenário que se apresenta e do paradeiro incerto do ditador desde o recrudescimento dos ataques na semana finda, a queda do governo se desenha como iminente. Até mesmo a Liga Árabe, que congrega os países da região, já se manifestou em apoio ao chamado Conselho Nacional de Transição, controlado por grupos de oposição a Kadafi, reconhecendo-o como único representante legítimo do povo líbio.

A se confirmar todas as expectativas, a derrota de Kadafi parece mesmo irreversível, mas o seu fim não permite antever dias mais tranquilos para a Líbia, pelo menos no curto e médio prazo. Ainda que as forças rebeldes acenem com democracia e eleições livres supervisionadas pela ONU num prazo de oito meses, o histórico da queda de outras ditaduras que recentemente ocorreram no Oriente Médio e Norte da África aponta para um day after de muitas incertezas e dificuldades para o regime que assumir a condução do país. Assim foi no Iraque, onde ação militar liderada pelos Estados Unidos, supostamente para encontrar armas de destruição em massa e instaurar um regime democrático, depôs Saddam Hussein. Como seu viu nos dias subsequentes à queda do ditador, as tão propaladas armas químicas ou nucleares em solo iraquiano se revelaram inexistentes e nem mesmo a execução de Saddam por enforcamento serviu para pacificar o país, que vive às voltas com disputas internas pelo poder e uma ciranda de atentados que já matou milhares de pessoas. Situação de indefinição política também enfrenta o Egito na era pós-oligarquia de Hosni Mubarak. Os militares assumiram o poder depois da deposição do tirano e estão prometendo a realização de eleições livres para setembro próximo o que, se efetivamente ocorrer, poderá ser o primeiro passo para um horizonte de dias melhores aos egípcios.

Sufocados por anos a fio por regimes autoritários e teocráticos, o grito de liberdade desses povos não pode mais ser contido. Nem mesmo a força das armas está sendo suficiente para inibir as manifestações populares que se disseminaram como um rastilho de pólvora pelas ruas das principais cidades. Além de Kadafi, que parece viver seus últimos dias de reinado, o ditador sírio Bashar Assad também enfrenta crescente insurgência interna, sufocada por ora pela violência das forças leais ao seu governo. Apesar de apegar-se ao poder com todas as forças, o seu destino deve ser o mesmo reservado a outros déspotas.

Não é de hoje que a região experimenta uma frágil estabilidade como consequência do seu complexo quadro geopolítico. Às diferenças étnicas e religiosas existentes dentro de um mesmo país, às crescentes insatisfações populares com a corrupção oficial e às dificuldades econômicas que recaem sobre as populações, soma-se o interesse direto e a influência das grandes potências sobre uma região do mundo atolada em petróleo. Todos esses ingredientes, que misturam regimes despóticos que afundam na corrupção, convulsões sociais internas e interesses econômicos mundiais (leia-se petróleo), tornam ainda mais intrincados os caminhos que permitam visualizar um tempo com menos turbulência, o que não se materializa simplesmente com a queda de ditadores, promessa de democracia e a realização de eleições.

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