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Os serviços prestados pelo deputado paranaense André Vargas ao PT, partido do qual se desfiliou há algumas semanas após 23 anos de militância, de nada mais lhe valem para salvar o próprio mandato. É o PT que, agora, pede à Justiça Eleitoral a cabeça do antigo e ativo correligionário sob o argumento de que, tendo deixado a legenda pela qual se elegeu, perde também o direito de ocupar sua cadeira na Câmara Federal já que, pelo sistema proporcional de eleição, a vaga é do partido e não dele.

Há, de fato, farta jurisprudência a esse respeito. Não foram poucos os casos de vereadores e deputados estaduais e federais Brasil afora que foram obrigados a devolver seus mandatos para os partidos pelos quais se elegeram, tal como reza a lei da fidelidade partidária. Mas neste caso especial, chega a ser irônico que a fidelidade que André Vargas devotou ao PT durante toda a sua carreira política – de vereador a deputado estadual e federal – custe-lhe agora o preço de encerrá-la por infidelidade.

O PT já entrou com ação no Tribunal Superior Eleitoral na última sexta-feira, dia 23, na qual acusa seu antigo dirigente – Vargas foi secretário nacional de Comunicação da legenda até o ano passado – de quebrar diretrizes partidárias e abandonar a legenda. Mas esse interesse em retirar o cargo de Vargas não condiz com a atuação do partido em outras ocasiões. Desde que o PT começou a assumir espaços de poder e a crescer como um partido de massa, tornaram-se corriqueiros comportamentos diametralmente opostos ao excesso de zelo demonstrado ao pedir a cassação de André Vargas. Não se viu, por exemplo, tanto rigor pela "quebra das diretrizes partidárias" quando tantos de seus membros se enredaram em outros atos de corrupção, dos quais o mais emblemático foi o que envolveu o esquema do mensalão.

Estão na cadeia, após julgados e condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), alguns de seus mais proeminentes militantes e dirigentes – mas nunca se viu a direção do partido sequer dirigir contra eles palavras de repúdio, salvo no caso de Delúbio Soares, o ex-tesoureiro, que foi expulso no calor da onda para, pouco tempo depois, ser readmitido com honra às fileiras petistas. Então, por que tanto rigor e pressa ao cassar o mandato de seu antigo militante – justamente aquele que afrontou o presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, ao repetir o gesto dos punhos fechados dos mensaleiros presos?

Investigado por suposto envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, André Vargas transformou-se logo num bode no meio da sala, justamente em ano eleitoral. Sua presença era capaz de contaminar todo o projeto eleitoral petista, tornando-se urgente, portanto, colocá-lo porta afora. O PT foi fazendo isso aos poucos: primeiro, forçando-o a renunciar à vice-presidência da Câmara Federal – lembremos que o ex-presidente Lula chegou a dizer que o partido não poderia "pagar o pato" no caso; depois, ao abandoná-lo à própria sorte, obrigá-lo a se desfiliar. E, agora, a atitude final: já que se desfiliou, que devolva também a vaga de deputado. Para quem até pouco tempo estava ao lado das grandes lideranças petistas como um fiel correligionário, soa triste esse desfecho.

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