O papa Francisco chega hoje ao Brasil para sua primeira viagem apostólica fora da Itália. Desde 2011, o país se preparava para receber novamente Bento XVI na Jornada Mundial da Juventude, mas a inesperada renúncia do pontífice alemão abriu espaço para a eleição do argentino Jorge Mario Bergoglio, em março. Um papa que conhece, por experiência pessoal, as situações de pobreza que vivem muitos latino-americanos, e que vem ao Brasil em um momento peculiar da história do país.

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O auge dos protestos de rua parece já ter passado, mas o Brasil ainda vive um rescaldo da onda de indignação que levou milhões de brasileiros a pedir melhores condições de saúde e educação, entre tantas outras reivindicações. Conhecendo a ênfase que o papa Francisco tem dado à questão da pobreza, é praticamente certo que ele se solidariza com o drama de tantos brasileiros que não têm acesso a serviços públicos de qualidade. O correspondente Juan Arias, do jornal espanhol El País, chegou a escrever, citando apenas uma "fonte fidedigna", que o papa incluiria uma menção aos protestos em suas homilias no Rio e teria dito a bispos brasileiros que as manifestações "não contradizem o Evangelho". A assessoria de imprensa do Vaticano desmentiu o jornal no dia seguinte, mas, como dizem os italianos, se non è vero, è ben trovato – ainda que o papa realmente não tenha dito isso, ele certamente concordaria com as reivindicações dos brasileiros, quando apresentadas de modo pacífico, como bem ressaltou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil em um comunicado sobre o tema.

De outra natureza são os protestos específicos contra a visita de Francisco, a ponto de a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ter manifestado preocupação com "grupos de pressão". A versão carioca da Marcha das Vadias ocorrerá no dia 27, e uma associação de ateus promete um "desbatismo coletivo". São grupos que estão no seu direito de protestar contra as doutrinas católicas, ou contra os gastos com a visita do papa (apesar das boas projeções de retorno financeiro para a cidade do Rio de Janeiro). No entanto, é imprescindível que os manifestantes saibam fazê-lo pacificamente, sem provocações como as observadas na JMJ de Madri, em 2011, quando grupos laicistas se esforçaram para desestabilizar os peregrinos, com mais ou menos sucesso.

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Francisco também chega ao Brasil em um momento delicado para a defesa da vida no país. Está sobre a mesa de Dilma Rousseff o PLC 3/2013, que, sob o pretexto de regulamentar o atendimento à mulher vítima de violência sexual, abre as portas para a prática ampla do aborto. Grupos e parlamentares pró-vida vêm pedindo o veto, seja total, seja parcial, removendo os trechos introduzidos de forma sorrateira para facilitar o aborto. Em 2007, já na chegada ao Brasil, Bento XVI afirmou, diante do então presidente Lula: "estou certo de que em Aparecida, durante a Conferência Geral do Episcopado, será reforçada tal identidade [cristã], ao promover o respeito pela vida, desde a sua concepção até o seu natural declínio, como exigência própria da natureza humana". Recentemente, por ocasião do Domingo Pela Vida (celebrado no Reino Unido no próximo dia 28), em mensagem aos católicos britânicos e irlandeses, Francisco pediu a eles que protegessem "os mais fracos e mais vulneráveis, o doente, o idoso, o nascituro e o pobre". Por mais que o tema não seja recorrente na pregação de Francisco, é de se esperar do papa a firmeza habitual caso o tema do PLC 3/2013 apareça nas conversas com a presidente Dilma.

Por ocasião da JMJ, o papa vem se dirigir especialmente aos jovens, muitos dos quais estiveram nas ruas quando as passeatas envolveram o Brasil. Que as palavras do pontífice cujo estilo e pregação vêm cativando católicos e não católicos em todo o mundo saibam inspirar esses jovens em prol da justiça, da defesa da vida e do bem comum.