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Editorial

O papelão da diplomacia brasileira

Já são 28 os mortos desde o início dos protestos contra o governo de Nicolás Maduro na Venezuela, segundo dado atualizado pela Promotoria do país. Existem evidências suficientes de que por trás de muitas das mortes estão os chamados "coletivos", milícias armadas e motorizadas que ganharam um endosso especial de Maduro quando, em 5 de março, primeiro aniversário da morte de Hugo Chávez, o ditador falou em cadeia nacional de rádio e televisão e pediu ao povo, em especial aos grupos chavistas, que seguissem "a ordem do comandante Hugo Chávez: vela que se acende, vela que apagamos com o povo organizado para garantir a paz a nosso país". Não tanto um chamado à concórdia, mas à repressão contra os manifestantes para garantir uma paz baseada no silêncio da oposição. Enquanto a Venezuela sofre sob a ditadura chavista, a maioria dos vizinhos latino-americanos encena um teatro que faz deles cúmplices das mortes de venezuelanos. E nessa farsa o Brasil, infelizmente, exerce papel de protagonista.

Em fevereiro, a presidente Dilma já tinha dito, na Bélgica, que "não cabe ao Brasil discutir o que a Venezuela tem a fazer, até porque seria contra a nossa política externa. Não nos manifestamos sobre a situação interna de nenhum país" – hondurenhos e paraguaios certamente teriam muito a dizer sobre a "não interferência" brasileira em seus assuntos. O Brasil já tinha assinado uma nota absurda do Mercosul em apoio ao governo de Nicolás Maduro. Mas os acontecimentos dos últimos dias tornam ainda mais vergonhosa a atuação da diplomacia brasileira, que já foi uma das mais respeitadas do mundo, mas agora vive de joelhos diante da ideologia bolivariana.

O Brasil, por exemplo, ajudou a barrar, no dia 7, o envio de uma missão da Organização dos Estados Americanos (OEA) à Venezuela. O argumento pífio do Itamaraty era o de que o fato de a entidade incluir os Estados Unidos desaconselhava uma ação da OEA. Em outras palavras, só os aliados ideológicos de Maduro teriam a isenção suficiente para analisar a convulsão social venezuelana. Em vez disso, foi aprovada uma resolução insossa, quase condescendente com o governo chavista, como se Maduro estivesse realmente disposto ao diálogo e à reconciliação – apenas Estados Unidos, Canadá e Panamá se opuseram ao texto.

Em vez da OEA, entrou em ação a União das Nações Sul-Americanas (Unasul), quase uma organização-satélite do bolivarianismo, presidida pelo ex-ditador e atual presidente do Suriname, Dési Bouterse, contra o qual existe até um mandado internacional de prisão por tráfico de drogas. Na quinta-feira, os chanceleres dos países membros da entidade assinaram mais uma nota em que respaldam os "esforços do governo da República Bolivariana da Venezuela para promover um diálogo entre o governo, todas as forças políticas e atores sociais" – embora os únicos esforços governamentais feitos até agora são os de prender opositores e colocar os "coletivos" para disparar contra manifestantes, ações que não são nem sequer mencionadas no texto, duramente criticado pelo que sobrou da oposição venezuelana.

Agora, a Unasul pretende enviar "mediadores" à Venezuela, medida aplaudida pelo chanceler venezuelano, Elías Jaua. Antes da nota da entidade, a oposição venezuelana já havia pedido à Unasul que olhasse com objetividade para a aflição da Venezuela. A nota de quinta-feira mostrou que a súplica passou em branco, ampliando o temor de que o grupo de mediadores, influenciado pelo bolivarianismo, já tenha praticamente prontas suas conclusões antes mesmo de colocar os pés no país, dando seguimento à farsa de que a diplomacia brasileira parece participar com alegria.

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