Investimentos públicos direcionados unicamente para a ciência e a pesquisa nunca serão suficientes para acelerar e sustentar o desenvolvimento de empresas que inovam

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Para que o conhecimento gerado na academia se transforme em riqueza e crescimento social, a empresa deve ser reconhecida como protagonista principal da inovação. Os avanços do conhecimento só poderão cumprir a promessa de um crescimento econômico e social vigoroso se inovação for sinônimo de produtividade e competitividade empresarial. Isso significa que o protagonismo privado na inovação – ou seja, o papel da empresa neste processo – é primordial. E que investimentos públicos direcionados unicamente para a ciência e a pesquisa, por mais significativos que sejam, nunca serão suficientes para acelerar e sustentar o desenvolvimento de empresas que inovam.

A Rede Interamericana de Competitividade recentemente mostrou, no relatório Sinais de Competitividade das Américas, que na América Latina de forma geral, e no Brasil em particular, a fonte principal dos investimentos ligados à inovação provém de instituições públicas (totalizando 59% do total investido), ao contrário dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em que aportes do governo se limitam a 35% do total. Recursos direcionados para a ciência são obviamente necessários, mas não são suficientes para provocar as transformações sociais decorrentes da inovação. Prova disso é que, ainda que os dispêndios médios em pesquisa e desenvolvimento (P&D) por pesquisador na Coreia do Sul (US$ 201 mil / pesquisador) e no Brasil (US$ 187 mil / pesquisador) ocorram em patamares similares, existe uma óbvia distância entre os dois países em termos de desenvolvimento social. A chave da inovação está no protagonismo privado. No Brasil apenas 1,1% do PIB está comprometido com atividades de P&D, e a iniciativa privada entra com 45% desse total. A Coreia do Sul compromete 3,7% do seu PIB com essas mesmas atividades, sendo 72% a partir das empresas. Como é que, apesar de sermos uma das maiores economias mundiais, ainda temos no Brasil um protagonismo privado na inovação tão baixo?

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Uma primeira explicação encontra-se na confusão que subsiste entre avanços científicos e inovação. Ao acreditar que inovar consiste em desenvolver pesquisas nas universidades, caímos na armadilha de pensar que os investimentos necessários são de exclusiva responsabilidade do governo. Um segundo elemento que sufoca o protagonismo empresarial na inovação é a burocracia, que freia o empreendedorismo. Finalmente, a inovação é muitas vezes entendida e contabilmente classificada como gasto periférico do negócio da empresa, que será consequentemente eliminado em períodos economicamente difíceis – justamente quando a inovação é mais necessária.

Para termos uma compreensão ainda mais completa, necessitamos também questionar a qualidade dos dados que apontam para um baixo protagonismo privado em inovação. Muitos recursos contabilizados no Brasil como "investimentos públicos na inovação" consistem, na realidade, em verbas destinadas à formação universitária e pesquisa básica, atividades que não podemos confundir com a própria inovação. Nas empresas, por outro lado, os investimentos em inovação não são muitas vezes explicitamente reconhecidos e contabilizados dessa forma, por falta de compreensão do tema. Finalmente, os instrumentos de captura de dados sobre protagonismo econômico em inovação não são definitivamente adequados. A Pesquisa em Inovação Tecnológica (Pintec) do IBGE assimila, por exemplo, gastos em compra de máquinas (ou seja, modernização) com inovação, além de amparar a obrigatoriedade de resposta ao questionário na arcaica Lei n.º 5.534, de 1968, que prevê multas em caso de não prestação de informações nos prazos fixados. Nesse contexto, a probabilidade de termos dados imprecisos é grande.

De todas as formas, é imprescindível não mais confundirmos a atividade de pesquisa científica com a atividade de inovação, em que a empresa é o protagonista principal. Na medida em que as políticas industriais não fazem muitas vezes esta distinção, o próprio papel indutor do governo encontra-se prejudicado por falta de incentivos claros e efetivos à atividade empreendedora, por essência privada.