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Para boa parte dos brasileiros, a campanha eleitoral é o "tempo de política". É a hora em que o eleitor faz a avaliação dos atuais governantes, tendendo a votar neles se está satisfeito e avaliando as alternativas de voto em candidatos da oposição se não está contente com as políticas públicas implementadas, com os benefícios recebidos por ele e por sua família. A segurança pública, o atendimento da saúde, educação, as políticas públicas são colocadas na balança.

Passada uma semana das eleições em primeiro turno, o eleitor recebe a lista dos eleitos e faz a sua própria avaliação. Fica feliz se ajudou a eleger seus candidatos, indignado com a vitória de outros, preocupado com a decisão do segundo turno. De qualquer forma, a maior parte se sente com o dever de cidadão cumprido. Só precisará pensar novamente em política daqui a dois anos, nas eleições para prefeito. E esse é um grave erro.

Existem expressões conhecidas para o dia do voto: é o dia em que podemos mudar nosso futu­­ro, decidir nosso destino. E realmente o voto tem esse poder. Eleger nossos representantes é uma responsabilidade ímpar e que, por isso, deve ser cumprida com muito cuidado. Porém o dia da votação é uma espécie de epílogo de um processo muito mais amplo.

O conceito estrito de política é a formal. Aque­­la feita em gabinetes e parlamentos, aque­­la simbolizada pelos detentores de mandatos e seus assessores. Contudo, existe um conceito maior de política, que é a participação popular. Estudos de Ciência Política mostram que nos países onde a luta para as conquistas dos direitos civis e sociais foram mais fortes, os partidos são mais comprometidos com ideais, o personalismo costuma ser menor, assim como o clientelismo. Onde não há participação popular, a representatividade mínima de todos os interesses – incluindo os das chamadas minorias –, não há uma democracia forte.

A política no sentido mais amplo inclui sim a participação em partidos políticos, mas vai além. É a participação em entidades de classe, em entidades da sociedade civil, em movimentos para melhoria de condições sociais, econômicas, ambientais. Pode começar na escola, em grêmios estudantis ou em centros acadêmicos, quando já na formação superior, se estender para mobilização de melhoria do bairro, da segurança pública em uma região, para a formação de lideranças em comunidades. É a conversa com o farmacêutico da esquina que se es­­tende para os vizinhos, para o bairro, para uma região da cidade, que pode melhorar as con­­dições de vida de determinada comunidade com a união de forças.

E é também a escolha dos representantes políticos, mas que não acaba no dia do pleito. Mesmo que o candidato escolhido não tenha sido eleito, todos os vitoriosos devem ter seus trabalhos acompanhados. Nas questões mais importantes, como votou cada parlamentar, como ele se pronunciou, omitiu-se, ou declarou sua posição em questões polêmicas? Como o eleito se comunica com seus eleitores, de que forma luta pelas propostas que apresentou durante a campanha? É engajado em movimentos sociais? Está presente em discussões com a sociedade? Se é parlamentar, fiscaliza o Poder Executivo?

A hora da política é também na vida cotidiana e realmente não é uma tarefa fácil. No meio de tantas obrigações que o cidadão tem em sua vida privada, sobra pouco para se preocupar com a "vida da política". Todavia, estar aten­­to, ao menos às discussões de maior importância no parlamento e no Poder Executivo, é uma das formas de acompanhar. Seja pelas notícias publicadas no jornal, transmitidas pela televisão ou pela internet. Daqui a dois anos, nas eleições municipais, ou quatro, quando novamente candidatos a deputados, senador e governador voltam a se apresentar, o momento do voto pode ser considerado um dia tão importante quanto foi neste ano. Mas ir além disso significa uma consolidação de um processo de participação, que culmina em escolhas responsáveis e conscientes.

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