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Qualquer brasileiro que goste de futebol não teve como ignorar um incômodo aniversário: na quarta-feira, dia 8, o maior vexame da seleção brasileira, o 7 a 1 sofrido contra a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo, completou um ano. Na época, a reação imediata daqueles que se importam com o esporte, depois de recolher os cacos, foi a de descobrir o que houve de errado. Não naqueles 90 minutos, mas com todo o futebol brasileiro. Mais que descobrir se determinado jogador estava mal posicionado na fatídica partida, tratava-se de buscar maneiras de recuperar a excelência que caracterizou o Brasil por décadas nas quatro linhas, e não faltaram exemplos vindos do próprio algoz da seleção. Um ano depois, os torcedores têm pouco a celebrar, como mostrou reportagem da Gazeta do Povo publicada na quarta-feira.

Dentro do campo, a CBF mostrou ter um conceito muito peculiar de inovação ao convocar, como novo treinador da seleção, o mesmo Dunga que levou o Brasil ao fracasso na Copa anterior, a de 2010, na África do Sul, desprezando opções estrangeiras familiarizadas com o que há de mais evoluído no futebol mundial. E, após a eliminação na recente Copa América, criou-se um Conselho de Desenvolvimento Estratégico com muitas das pessoas que comandaram outros momentos constrangedores do futebol nacional. Mas antes fossem esses os piores problemas do esporte que ainda é a grande paixão de muitos brasileiros – o pior está fora de campo, na organização.

Dentro de campo, mentalidades arcaicas; fora dele, incentivo à irresponsabilidade e conivência com malfeitos

Felizmente, a ideia de criar restrições à ida de jogadores brasileiros para o exterior não durou: foi apenas um devaneio da presidente Dilma Rousseff em entrevista ao canal CNN alguns dias depois do 7 a 1. Mas outras ideias muito melhores, como a de impor responsabilidade fiscal aos clubes, assim como se faz em diversos países da Europa, encontraram (e ainda encontram) forte resistência. Prova disso foi a inclusão sorrateira de um artigo que previa uma generosa anistia na renegociação das dívidas dos clubes sem impor nenhuma contrapartida, durante a votação de uma medida provisória no fim do ano passado. No início de 2015, o trecho em questão – que tinha o apoio do atual presidente da CBF, Marco Polo del Nero – acabou vetado por Dilma, em atitude acertada.

Foi preciso que se passasse um ano do 7 a 1 para que o Congresso finalmente se movesse na direção certa. Na terça-feira, a Câmara aprovou a chamada “MP do Futebol”, que trata da renegociação das dívidas dos clubes, mas impõe contrapartidas de responsabilidade, prevendo até mesmo rebaixamento aos times que desrespeitarem as regras (como ocorreu com equipes renomadas na Escócia e na Itália). O texto ainda precisa passar pelo Senado e, apesar de ser um avanço, não ficou redondo como deveria, preservando poderes das federações e da CBF, ao contrário do que pretendiam o Bom Senso (grupo que reúne vários atletas preocupados com o futebol nacional) e alguns clubes.

E é na cúpula da direção do futebol brasileiro que estão vários outros problemas. Um ex-presidente da CBF, José Maria Marin, está preso desde maio; e Del Nero, atual ocupante do cargo, está sendo investigado pela Justiça norte-americana. Ambos seriam parte de um esquema de corrupção que inclui propinas e fraudes na negociação de direitos de transmissão de competições. O escândalo teve tamanha dimensão que levou à renúncia do presidente da Fifa, Sepp Blatter, poucos dias depois de sua reeleição para um quinto mandato – mas Del Nero segue firme e forte no comando da CBF. Que credibilidade tem um dirigente nesta situação para reerguer o futebol brasileiro?

Dentro de campo, mentalidades arcaicas; fora dele, incentivo à irresponsabilidade e conivência com malfeitos. Nosso futebol, por ser pródigo em bons jogadores, até pode conquistar torneios importantes num futuro próximo. Mas não parece disposto a levar adiante a revolução que teria feito o 7 a 1 valer a pena.

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