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Enfrentar as agruras da realidade de um mundo conturbado por uma grande crise internacional, pelo terrorismo, conflitos étnicos exacerbados, desemprego, pobreza e a fome parecia um extraordinário desafio para o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, Barack Obama, quando assumiu a Casa Branca em janeiro último. Sim, um senhor desafio que, numa linguagem figurada, nem dois presidentes com o mesmo prestígio e o poder que o governo norte-americano proporciona, depois de uma vitória eleitoral retumbante, poderiam transformar tudo isso por simples querer.

A opinião pública, talvez pelo glamour da figura de um homem de origem simples atingir o topo da maneira triunfal como o fez, ou pela visão distorcida da realidade que passou parte da mídia, chegou a acreditar, momentaneamente, que era possível fazer essas grandes transformações em curto espaço de tempo. Contudo, quase um ano depois da posse, os fatos mostraram que é preciso um esforço muito maior – um esforço gigantesco, na verdade –, para um presidente atingir todos esses objetivos.

Muitos pensam que Obama frustrou as expectativas de seu eleitorado e do mundo por inexperiência ou falta de ação. Se isso aconteceu, tem um peso mínimo na balança dos fatos. A rigor, o sentido de frustração com sua administração que paira no ar é justamente daqueles que acreditavam que era possível mudar essa realidade, nos primeiros momentos de euforia de seu governo, num passe de mágica. Os mais realistas sempre viram que Obama, nesse primeiro momento de gestão, teria capacidade de realizar muito mais coisas e atingir conquistas superiores a muitos presidentes da era moderna dos EUA. Só que os seus desafios são tantos que aparenta que fracassou.

Ora, Barack Obama encerra o ano com muitos trunfos: já no começo, conseguiu a aprovação de um plano de estímulo econômico da ordem de US$ 787 bilhões; as medidas econômicas que adotou evitaram uma depressão e o país começou a crescer de novo; o mundo recobrou a confiança na maior economia do planeta, que ficara combalida; há poucas semanas, o presidente recebeu, em Oslo, o prêmio Nobel da Paz. E, nesta semana, conseguiu a aprovação, no Senado, de uma moção de procedimento que abre caminho para a reforma do sistema de saúde que defende.

Muitos assuntos importantes continuam pendentes, mas isso não quer dizer que não ocorreram avanços. No cenário interno, a reforma sobre a imigração deverá esperar para o próximo ano, assim como o fechamento da prisão de Guantánamo. No plano internacional, Obama não conseguiu bons termos para pôr fim à guerra do Iraque e do Afeganistão. Pelo contrário, neste último caso os analistas acham que o conflito vai se intensificar em 2010. O processo de paz no Oriente Médio parece tão encalhado como sempre, especialmente porque Obama não pode fazer um acordo com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, aceitável por Israel.

Entre erros e acertos, é possível dizer que Barack Obama mais acertou do que errou até agora. Talvez seu modo de agir pragmático tenha sido o mais relevante, que se evidenciou em todas as suas lutas. Nas batalhas mais recentes, as questões da mudança climática e da reforma da saúde mostraram esse acerto. Em ambos os casos, para conseguir um consenso, teve de aceitar acordos muito abaixo de suas expectativas iniciais. Mas, como ele mesmo observou em Copenhague, "se esperávamos conseguir (todos os objetivos), não alcançaríamos nenhum avanço". É dessa forma, imprevisível e com muito esforço, que sempre avançou o progresso humano.

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