| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Não houve surpresa na mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que manteve a taxa básica de juros, a Selic, em 6,5%. É a terceira reunião seguida em que o comitê mantém os juros no mesmo patamar, que é o mais baixo da série histórica. A decisão era esperada pelo mercado, ainda que o próprio Copom, em seu comunicado, tenha afirmado que “a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural”.

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Em primeiro lugar, havia motivos suficientes para que não houvesse elevação na Selic. A inflação havia dado um salto em junho, mas o Copom atribuiu o número ao efeito da greve dos caminhoneiros ocorrida em maio (apenas um entre as várias consequências maléficas da paralisação, diga-se de passagem) e considerou que se tratou de algo esporádico, com o IPCA voltando ao comportamento anterior. Além disso, a própria lentidão na retomada da atividade econômica já desaconselhava fortemente uma elevação nos juros, que atrapalharia sobremaneira a produção e a geração de empregos, ainda cambaleante.

Sem as reformas estruturais, não teremos como ver novas reduções consistentes na Selic

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Outro fator que poderia forçar os juros para cima, o cenário internacional, apresentou “apresentou certa acomodação no período recente”, de acordo com o comunicado. Uma das maiores preocupações era com a possível elevação dos juros nos Estados Unidos. No entanto, na mesma quarta-feira em que o Copom encerrava sua reunião, sua contraparte norte-americana, o Fed resolveu manter sua taxa básica – as duas decisões saíram com apenas horas de diferença, com os americanos vindo antes. Uma elevação seria suficiente para que houvesse uma saída de capitais das economias emergentes em direção à segurança oferecida pelos Estados Unidos.

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Mas, se não há razões para elevar a Selic, as atuais circunstâncias tampouco favorecem uma redução. A recente alta na inflação pode ter sido apenas um sobressalto resultante de um evento extraordinário, mas as projeções para o IPCA em 2018 e 2019 mostram um índice bastante próximo ao centro da meta do Banco Central – os números do comunicado mostram que há poucas chances de repetirmos o IPCA de 2017, que ficou abaixo até mesmo do piso da meta. Além disso, os Estados Unidos podem não ter reduzido seus juros agora, mas a chance de fazê-lo ainda este ano permanecem altas, isso sem falar das consequências da guerra comercial entre as grandes potências. Por isso o comunicado diz que, apesar da “acomodação” recente, o cenário externo “segue mais desafiador”.

Por fim, o Copom reafirmou o que vem dizendo desde o ano passado: sem as reformas estruturais, não teremos como ver novas reduções consistentes na Selic. Com o início da campanha eleitoral às portas, fica difícil vislumbrar qualquer possibilidade de aprovar ainda neste ano uma reforma da Previdência, ou tributária, ou que reduza fortemente o gasto público. E, a depender do que o eleitor escolher para o Brasil nos próximos quatro anos, até o pouco que já foi conquistado pode ser perdido.

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