O direito de greve, juntamente com a liberdade sindical e o direito de organização e mobilização, faz parte das sociedades livres e, quando bem usado, pode ser uma estratégia para se conseguir melhora das condições do ambiente de trabalho, políticas de segurança e dos salários. Mas a razoabilidade exige que seja usada sempre como o último recurso, após se esgotarem todos os outros meios de negociação entre empregados e empregadores. E mesmo assim, as ações devem ser pautadas pela proporcionalidade. Quando uma greve não respeita esses dois princípios perde sua legitimidade.

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Foi esse o caso da greve dos motoristas de ônibus em São Paulo nesta semana. Motoristas e cobradores não satisfeitos com o acordo fixado entre o sindicato da categoria e as empresas de transporte começaram a interromper o trabalho na manhã de terça-feira. Sem comunicação prévia e nem apoio do sindicato, o movimento foi ganhando força através do boca a boca. Passageiros foram expulsos dos ônibus. Homens armados obrigaram motoristas a parar. Veículos tiveram os pneus furados e acabaram estacionados na entrada de terminais ou nas ruas, interrompendo o trânsito. Sem poder voltar para casa, passageiros chegaram a dormir dentro dos terminais de transporte.

Ações como a dos grevistas paulistas só podem ter sido pautadas pela irracionalidade. Sem respeitar nem mesmo a legislação – alguns dos atos feitos durante a greve podem ser enquadrados como crimes contra a organização do trabalho –, eles colocaram em risco a segurança e o bem-estar mínimo da população, além de enfraquecerem o próprio movimento sindical. A questão é que a proximidade da Copa do Mundo tem acirrado os ânimos de sindicatos, que não escondem de ninguém a pretensão de usar o Mundial para pressionar os governos.

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Na quarta-feira, por exemplo, policiais civis de 10 estados aderiam à paralisação nacional convocada pela Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis (Cobrecol). O presidente da entidade, Jânio Bosco Gandra, disse em entrevista à BBC Brasil que este seria apenas o "primeiro de outros alertas que poderão ser dados" até a realização da Copa, caso as reivindicações do grupo não sejam atendidas. Movimentos sociais também se mostram propensos a usar a proximidade do Mundial para defender suas demandas, normalmente tentando unir a luta por pautas bem específicas à insatisfação pelo atraso ou mau uso do dinheiro público nas obras para a Copa.

Grevistas e movimentos sociais entendem que os governos, querendo evitar qualquer problema durante a Copa, ficam mais "sensíveis" a atender às reivindicações. De fato, nenhum gestor público deseja que o transporte, a coleta de lixo e em especial a segurança pública parem durante o evento ou que as ruas sejam tomadas por protestos. Mas aproveitar-se disso revela, no mínimo, uma visão distorcida da vida em sociedade. Colocar interesses particulares, mesmo que legítimos, acima da coletividade, desrespeitando ou até pondo em risco em nível inimaginável os direitos dos outros, não é o que se espera dos cidadãos de uma sociedade madura.

Como o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse nesta semana em resposta à ameaça de greve das corporações policiais, é preciso haver, ao menos, "bom senso". Para negociar reivindicações trabalhistas há muitos caminhos possíveis que não passam pela greve. Os próprios sindicatos podem dialogar diretamente com as entidades patronais e, em casos específicos, como no de serviços públicos e de produtos monopolizados (serviços postais, energia, água, policiamento, transporte coletivo), a negociação pode ter o envolvimento de outras instâncias – por exemplo, a Justiça do Trabalho – a fim de que a paralisação se torne quase desnecessária e, se ocorrer, preveja a continuidade do atendimento à população. É isso o que se espera de movimentos sindicais sérios e comprometidos com a sociedade.

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