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Talvez a crise que o Brasil está vivendo seja muito mais grave do que imagina a vã filosofia. Os últimos dias têm sido marcados por preocupantes acontecimentos, que põem em risco as condições de manutenção da lei e da ordem. E as instituições nacionais que constitucionalmente têm o papel maior de assegurá-las mostram-se inertes, erráticas ou em conflito entre si próprias.

Vejamos: há dez dias, duas mil mulheres pertencentes ao grupo Via Campesina, braço auxiliar do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), invadiram um centro privado de pesquisas florestais no Rio Grande do Sul, destruíram seus hortos experimentais, laboratórios e valioso material de estudo, produzindo um prejuízo muito maior do que os 400 mil dólares em que as instalações estavam avaliadas.

No Paraná, representantes do mesmo grupo invadiram igualmente outra propriedade particular de pesquisa agronômica sob o argumento, tecnicamente não comprovado, de que os experimentos com sementes modificadas poderiam eventualmente afetar as reservas florestais nativas do Parque Nacional do Iguaçu. No Norte do estado, 40 sem-terra torturaram e ameaçaram de morte um casal de fazendeiros, furtando-lhes bens domésticos. No Pará, proprietários de uma área onde se criavam 130 mil cabeças estão sendo obrigados a retirar o rebanho às pressas por milícias invasoras.

Outros fatos do gênero, marcados igualmente pela violência e pelo total desrespeito à lei e à ordem, se multiplicam pelo país, gerando um clima de total e perigosíssima intranqüilidade. Guardam em si, potencialmente, todas as condições para que venham a se deflagrar conflitos de proporções indesejáveis.

Diante desse quadro perturbador, o que se vê é a leniência absoluta das autoridades que deveriam agir para manter a ordem, para garantir direitos coletivos e individuais e para assegurar a paz social.

Não se trata de pedir, exclusivamente, que se coloque a polícia para pôr para correr ou prender pessoas ou grupos só porque defendem uma causa legítima, no caso a reforma agrária. Este é um direito que lhes deve ser assegurado a todo custo, pois não nos é dado, em sã consciência, deixar de reconhecer a existência de um problema social real e grave, representado pela multidão de brasileiros deserdados da terra, assim como não se pode deixar de concordar também de que o Estado e a sociedade lhes devem assegurar melhor destino. Mas igualmente não se pode admitir que, mesmo que em princípio se concorde com a justeza das reivindicações dos chamados movimentos sociais, que não se tomem as providências cabíveis para conter-lhes os excessos.

O país precisa de tranqüilidade para crescer e para distribuir justiça social. Cabe ao Estado, por meio dos poderes constituídos e dos instrumentos que a lei lhes confere, agir depressa e com proficiência para a manutenção da ordem e do respeito. Caso contrário, caminharemos para a anarquia, da qual ninguém tirará proveito. Muito pelo contrário.

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