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O Brasil, apesar de tudo, está melhor do que muitos países mergulhados em tensões sociais, político-religiosas ou desastres ambientais, onde os governos precisam atuar com um olho nos resultados econômicos e outro no controle das dissensões que podem inviabilizar a continuidade nacional.

Nesse aspecto, os formuladores da Teoria dos Bric, estrategistas do banco Goldman Sachs, reafirmaram, na última edição do Fórum de Davos, sua confiança de que o Brasil permanece no grupo. O historiador britânico Timothy G. Ash, da Universidade de Oxford, também acredita que o Brasil continua competitivo, apesar das crises por que vem atravessando, e que pontuará em 2026 como um dos grandes países contemporâneos, ao lado da China, Índia e Rússia.

O ano de 2005 não foi tão positivo para os brasileiros, com a queda no índice de crescimento econômico que nos situou na retaguarda dos demais países emergentes e do mundo em geral; com a crise política que erodiu a credibilidade popular na qualidade moral de parte da classe dirigente; e, no restante do mundo, pela sucessão de catástrofes naturais que ceifaram quase meio bilhão de vidas humanas. Porém há motivo para esperança – essa doce companheira dos homens – como pregava o padre Antônio Vieira: as perspectivas de expansão melhoraram, os países entraram num acordo para assegurar um fluxo de comércio internacional mais justo e a própria temporada de eleições realimenta a confiança na democracia.

Para o Brasil, as expectativas favoráveis se justificam, desde que encaremos o ano que findou dentro de uma visão histórica mais ampla. Como deduziu o pensador francês Fernand Braudel – quando viajava por uma estrada do interior brasileiro –, a História se caracteriza por períodos de curta e de longa duração; sendo os primeiros aqueles acontecimentos que, embora destacados no presente, vão perdendo dimensão ao longo do tempo. Já os fenômenos da "longue durée" são os importantes, por determinarem transformações estruturais na crônica humana.

Assim, o período presente, caracterizado por uma estabilização econômica com baixo crescimento, destoa do padrão histórico brasileiro assinalado por forte processo de expansão territorial e produtiva, operado por uma sociedade nacional em franca afirmação como grupo social. Numa dimensão mais ampla, podemos admitir que o Brasil é quase o produto de um milagre histórico: descoberto e colonizado por um povo pequeno e determinado, se manteve como território íntegro e politicamente estável enquanto outras formações vizinhas se fragmentavam quando da transição para a autonomia política.

É claro que o atual ritmo de crescimento – repetindo o desempenho medíocre dos últimos 20 anos – incomoda os brasileiros, justamente preocupados com o desperdício de um bom momento na ordem internacional. Porém o ano eleitoral de 2006 porá diante dos cidadãos a opção de sustentar a liderança presente ou substituí-la por outros atores mais assertivos; a depender do convencimento geral sobre os programas apresentados em campanha. Essa é a vantagem da democracia que, em nosso caso, por ser jovem e ainda em consolidação, exige mais cuidado do eleitor na tomada de decisão sobre os candidatos em disputa.

O fundamental é levarmos em conta que o Brasil, após superar tantos e tão graves obstáculos ao longo de sua crônica histórica, deve triunfar sobre mais este desafio – o do crescimento com densidade e base social. Porque só com expansão sustentável é possível distribuir os frutos do progresso pela maioria; como também só a acumulação dos êxitos assegurados pelo desenvolvimento dará ao país credenciais para assumir com responsabilidade sua posição no mundo globalizado de nosso tempo.

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