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A seca que afetou as lavouras na safra passada se refletiu sobre o desempenho econômico do país e do Paraná, cujas exportações e renda recuaram, explicando parte do baixo crescimento do PIB em 2005. Neste ano o problema volta a se repetir, conforme levantamentos iniciais, com perdas que já atingem 10% para a soja e até 30% nas lavouras de milho. Ao lado dos prejuízos com o descuido no controle da febre aftosa e da retração mundial do mercado de carnes avícolas ante a gripe aviária, o agronegócio enfrenta uma fase de "vacas magras".

Começando pelos problemas da safra agrícola anterior, as regiões produtoras situadas mais ao Sul do Brasil – Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina – sofreram forte retração com a estiagem que persistiu durante parte do ciclo agrícola. Com isso as quebras de produção chegaram a 20%, reduzindo a safra brasileira de grãos para 113 milhões de toneladas nos cultivos principais e encolhendo a renda dos produtores. Sempre otimistas, os órgãos governamentais da área divulgaram uma primeira previsão de safra para 2005/06, de 127 milhões de toneladas – o que configuraria a volta dos recordes de produção obtidos na administração anterior.

Mas os informes que chegam do campo são menos animadores: segundo os agrônomos extensionistas, neste ciclo a seca chegou mais cedo, com a falta de chuvas se manifestando já na segunda quinzena de novembro em regiões produtoras do Rio Grande, Santa Catarina e Paraná. O veranico antecipado se prolongou por dezembro e janeiro, fase crítica de desenvolvimento das plantas; o milho, por exemplo, já está comprometido e não há previsão de boas chuvas até esta segunda-feira.

A seca em duas safras também compromete as lavouras de cana, acarretando problemas no abastecimento interno do álcool, cujos preços se elevaram abruptamente, gerando esforços do setor público para evitar descontrole capaz de afetar compromissos de mercado externo e, sobretudo, a inflação interna.

Porém a crise mais aguda no setor agropecuário ocorreu no mercado de carnes, com os focos de febre aftosa registrados em criações do estado do Mato Grosso do Sul e suspeitas de contaminação em rebanhos transportados dali para o Paraná e São Paulo. Relatório preliminar de audiências conduzidas por uma subcomissão especial da Câmara dos Deputados – uma delas levada a efeito no Paraná – concluiu que a origem do problema se situa na falta de vigilância sobre o trânsito de animais na fronteira Paraguai-Brasil. Ali, assentados da reforma agrária contrabandearam animais não vacinados para dentro do país e os focos se irradiaram para propriedades vizinhas.

A polêmica informação da suspeita de um foco de febre aftosa no Paraná completou o dano: países importadores lançaram embargos sobre toda a carne das regiões sob risco, levando ao fechamento de abatedouros de gado bovino, de suínos e à retração nas vendas de frango. Tais questões derivadas da incúria humana são agora agravadas com a repetição da seca, deixando para trás os anos dourados do agronegócio brasileiro.

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