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Estudantes universitários promoveram na Universidade Federal do Paraná, quinta-feira, um encontro para debater o voto nulo, refletindo o desencanto de setores da população com a conjuntura política. Mas esse niilismo não é bom, porque no limite afeta a capacidade do sistema democrático de dar resposta às questões que interessam à sociedade; valendo mais o chamamento à ética promovido pela Conferência dos Bispos, pela entidade nacional dos juízes, por movimentos empresariais e até por organizações da Maçonaria, entre outros. Mesmo porque, chegado o mês de setembro, a campanha eleitoral ganhou ritmo, atingindo o ponto de inflexão em que os candidatos se mostram mais assertivos, e o cidadão passa a prestar atenção à propaganda eleitoral para decidir mais adiante com senso de responsabilidade.

Também não procedem queixumes de personalidades como o senador Jéferson Peres, companheiro de chapa do candidato presidencial Cristovam Buarque, ao se declarar disposto a abandonar a corrida sucessória por absoluta desilusão ante o quadro dos últimos meses. Ou do ex-presidente Fernando Henrique, lamentando que "o Brasil parece anestesiado" e sem capacidade de se indignar com os desvios morais registrados neste ano e meio. Em vez de debitar o quadro a um perfil de "desinformação das classes menos instruídas", razão mais forte para a persistente superioridade do presidente Lula e de governadores candidatos à reeleição nas pesquisas recentes, pode estar – segundo a colunista Eliana Cardoso – "na falta de credibilidade da oposição".

O fato é que nos programas transmitidos a partir deste mês os candidatos oposicionistas mudaram de tom, assumindo uma postura mais realista. Geraldo Alckmin deixou de lado seu "discurso de coroinha" e passou a se dirigir ao eleitorado com mais firmeza, num programa em todo melhor elaborado; Cristovam Buarque abandonou sua fala monocórdica sobre as virtudes da Educação, passando a elencar outras prioridades que existem no mundo real e até a senadora Heloísa Helena e postulantes de partidos nanicos se juntaram para criticar o desafiante melhor colocado – isto é, o presidente que disputa a reeleição.

Lula, por enquanto pelo menos publicamente não acusou o golpe, mas na seqüência deverá incorporar explicações defensivas, com o que tende a reequilibrar a absoluta dianteira que vinha administrando. Doutro lado, um rearranjo na disputa eleitoral, inclusive com a perspectiva de vitória de governadores fortes em legendas de oposição – em Minas, São Paulo, Bahia e Pernambuco – pode impedir tentações ambivalentes de líderes ancorados em votações maciças.

Afinal, como lembrava Afonso Arinos, cabe a nós brasileiros "zelarmos por essa plantinha frágil que é a democracia", cultivando os valores da democracia; assente entre outros fatores, no pluralismo das correntes partidárias, equilíbrio entre os ramos do poder político e garantia das liberdades de expressão.

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