Já foi constatado que o tráfico de armas, depois do narcotráfico, é o crime organizado mais rentável no mundo. E que a América Latina é uma espécie de "paraíso" para a prática desse crime que tanto mal faz à sociedade. É justamente por isso que o nosso continente é uma das regiões mais afetadas pela violência armada, mesmo sem os países estarem em guerra: 40% dos homicídios com armas de fogo ocorrem aqui, de acordo com o Small Arms Survey (SAS), projeto do Instituto de Estudos Internacionais, de Genebra (Suíça), que pesquisa a situação das armas de fogo no mundo.

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Nos últimos anos, diversos países do continente vêm adotando leis mais rígidas de controle de armas, na tentativa de mudar este quadro. Acordos regionais foram feitos para regular o comércio e combater o contrabando nas fronteiras. O Brasil foi um dos países que mais avançou na implementação efetiva das metas propostas pelo Programa de Ação da ONU. O Estatuto do Desarmamento, em vigor há cinco anos, fez cair substancialmente as exportações de armas brasileiras e restringiu o porte de armas para civis.

No entanto, um dos problemas latino-americanos que mais persiste é a falha na aplicação das leis ou a inexistência de uma legislação mais rígida e coordenada para combater o tráfico. Sem falar na debilidade dos aparatos policiais na repressão desses crimes. No caso do Brasil, se a estrutura legal e instrumental que temos fosse suficiente, os resultados do combate ao crime organizado e ao contrabando de armas seriam melhores. E, por consequência, os números de homicídios por armas de fogo não seriam tão alarmantes.

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As diferenças entre as leis de cada país favorecem o comércio ilegal de armas e uma estratégia eficaz seria a adoção de um modelo de legislação compatível em toda a região. Mas se os países do continente nem conseguem estabelecer parâmetros mínimos para um acordo duradouro de livre comércio, é possível imaginar quanto é difícil unificar as leis.

Em recente estudo, a Polícia Federal constatou o óbvio: pelo menos 17 cidades de fronteira são usadas como ponto de entrada de armas ilegais no Brasil. Entre elas, duas cidades paranaenses: Foz do Iguaçu e Guaíra. A entrada de armas pelo Paraguai é um problema histórico, já que o país vizinho vem sendo, há anos, usado impunemente como rota de contrabandistas, não dando trégua à polícia brasileira. Já as armas vindas da Bolívia entram ao menos por Corumbá (Mato Grosso do Sul), Cáceres (Mato Grosso), Guajará-Mirim (Rondônia) e Brasiléia e Plácido de Castro (Acre). O Rio Grande do Sul também figura como ponto de entrada de armas por meio da fronteira argentina, por Uruguaiana; e da fronteira uruguaia, pelas cidades de Quaraí e Santana do Livramento. Na Amazônia, a cidade de Tabatinga, na fronteira com a Colômbia, é outro ponto usado por traficantes de armas.

O controle do tráfico de armas é crucial para o Brasil, dada sua estreita relação com a violência armada que assombra todo o território. Só um grande esforço político coordenado poderá romper a vil barreira que tanto ceifa vida e entristece esta e outras nações.