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As visitas do presidente Lula ao Chile e à Argentina sinalizam o retorno ao equilíbrio nas relações do Brasil com os países vizinhos. Após a reaproximação com os Estados Unidos e uma nova atenção à Europa, essa postura representa, neste segundo mandato, um passo no rumo de uma política externa pragmática, em substituição ao modelo influenciado por componentes ideológicos da fase anterior – e de resultados escassos.

O governo de Brasília já havia indicado a nova tendência desde a cúpula da América do Sul na Ilha Margarita, quando nossos agentes diplomáticos impuseram limite às tentativas do eixo Venezuela-Bolívia-Equador de ditarem os rumos do continente. Em relação ao sr. Hugo Chávez, o presidente Lula manifestou descontentamento com as críticas – infundadas – à busca de combustíveis alternativos como o etanol e o biodiesel.

Mais, na ocasião também houve barreira às políticas erráticas do governo de Evo Morales, que, quando desafiado pela oposição interna, sempre procurou desviar o foco confrontando o Brasil. A incisiva advertência do presidente Lula fez prevalecer a corrente diplomática que há tempos advogava mudança no tratamento generoso dispensado ao governante boliviano.

Para os professores Flávio Saraiva, da UnB, e Francisco Teixeira, da UFRJ, essa reorientação passou ao plano concreto com a busca de alternativas para reduzir a dependência brasileira no gás: Lula reforçou a equipe do governo responsável pela área de gás, determinou a aceleração de investimentos nas jazidas gasíferas descobertas no litoral da Região Sudeste e anunciou a busca de novas fontes de suprimento, no Norte da África.

Os analistas consideram que, ao endurecer na cúpula da Ilha Margarita, Lula deu um recado quanto aos limites que o Brasil está disposto a tolerar. A diplomacia de integração agora deverá ser implementada em um nível mais maduro, avalia o professor Francisco Teixeira, implicando de um lado o revigoramento das relações com os Estados Unidos e países da Europa e de, outro, uma postura mais pragmática ante o Mercosul.

Já o ex-embaixador Rubens Antônio Barbosa considera ter ocorrido falha histórica no processo de constituição do Mercosul, quando se atribuiu voto igualitário aos diversos membros sem levar em conta a dimensão de cada país e prevendo decisões sempre por consenso. Ao contrário, na União Européia, cada membro tem número de votos correspondente à sua escala individual. Esse obstáculo impede maior aprofundamento do Mercosul porque a diplomacia brasileira não poderia aceitar que a conjunção de dois ou três países menores impusesse uma diretriz contrária aos interesses nacionais.

De fato, o Brasil tem condições para agir como ator global, estabelecendo relações com blocos e países. Acordos multilaterais como os do Mercosul só fazem sentido se contribuírem para fortalecer nosso país e não em nome de uma pretensa solidariedade, ausente na áspera realidade internacional.

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