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O dinheiro para evitar os desastres após fortes chuvas existe, mas não é empregado; quando é empregado, não apenas é mal distribuído como também a burocracia e a lentidão típicas da máquina estatal brasileira garantem que qualquer melhoria chegue tarde demais para centenas de famílias

Em 12 de dezembro de 2012, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, chamou a imprensa para anunciar que "o Brasil nunca esteve tão preparado para as chuvas". Menos de um mês depois, 200 mil pessoas já tinham sido afetadas pelas enxurradas na Baixada Fluminense e na Região Serrana do Rio de Janeiro. Agora, a cidade serrana de Petrópolis (RJ) já conta 33 mortos por deslizamentos de terra após os temporais que atingiram a cidade. Só a ineficiência governamental consegue explicar como, ano após ano, os desastres se repetem com um roteiro tragicamente previsível.

Autoridades se apressam em justificar que "em poucos dias choveu o equivalente ao previsto para o mês inteiro", como se isso não ocorresse praticamente todo verão. A população também costuma ser apontada como culpada pela própria sorte. "Nós temos um sistema de prevenção, o problema é que muitas vezes as pessoas não querem sair", disse, em Roma, a presidente Dilma Rousseff, negando qualquer problema com as ações governamentais de prevenção.

No entanto, dados do site Contas Abertas divulgados em janeiro deste ano mostram onde está o verdadeiro problema. Em 2012, o orçamento previa R$ 5,7 bilhões para programas de prevenção de desastres, mas o valor comprometido foi menor (R$ 3,7 bilhões) e a verba efetivamente usada foi de apenas R$ 1,8 bilhão – 32% do orçamento inicial. Ainda segundo o Contas Abertas, o Brasil aplica muito mais dinheiro para consertar os estragos que para impedi-los: o Ministério da Integração Nacional aplicou, de 2000 a 2011, R$ 7,3 bilhões em reconstrução e apenas R$ 698 milhões em prevenção. Dias atrás, o mesmo site também informou que as quatro ações direcionadas a áreas de risco em Petrópolis ainda estão em fase de licitação ou contratação, e que, apesar de todos os desastres que a atingem, a Região Serrana fluminense recebe menos verba que a cidade do Rio de Janeiro.

Ou seja: o dinheiro existe, mas não é empregado; quando é empregado, não apenas é mal distribuído como também a burocracia e a lentidão típicas da máquina estatal brasileira garantem que qualquer melhoria chegue tarde demais para centenas de famílias. É verdade que também é necessária a cooperação dos moradores avisados para deixar suas casas. Muitos deles agora experimentam um arrependimento amargo por uma decisão que custou a vida de entes queridos, mas é preciso observar o lado da equação que Dilma ignora: para onde levar essas pessoas? Qual é o grau de culpa que se pode atribuir a uma família que prefere ficar em sua casa a viver improvisadamente em um galpão ou ginásio de escola? Os recursos disponíveis e não empregados não seriam suficientes para proporcionar uma habitação digna para pelo menos parte dessas pessoas?

Também em Roma, Dilma afirmou que "o homem não tem condições de impedir desastres. O que ele pode impedir é a consequência do desastre", no que tem razão. Logo depois, no entanto, ela acrescentou que "é isso que a gente tem lutado para fazer no Brasil". Mas, infelizmente, se faz pouco, e se faz tarde. Quando a tragédia se repetir, amanhã ou no próximo verão, voltaremos a falar de recursos não utilizados e obras que não saem do papel, e todos voltarão a se perguntar que tipo de desastre precisa acontecer para tirar o governo da letargia atual.

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