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O professor José Pio Martins, que escreve quinzenalmente às sextas-feiras na Gazeta do Povo, com propriedade comentou em seu último artigo que uma das razões do atraso do Brasil está nas escolhas erradas que normalmente faz para priorizar os investimentos. Equívocos que, segundo ele, acabam retardando as metas de crescimento. A propósito, cita o saneamento básico no país, direito ao qual metade da população não tem acesso, ainda que não faltem promessas e mais promessas de solução a cada eleição que ocorre. O alerta de Pio Martins vem bem a propósito quando se constata que, passados quatro anos do lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento, o Brasil só conseguiu realizar 35% das obras de saneamento básico que estavam previstas pelo PAC.

O mais lamentável é que, apesar da importância crucial que tem para a população brasileira uma rede adequada de água e esgotos, as obras acabam esbarrando na burocracia oficial, mesmo existindo recursos disponíveis e já liberados. Diante disso, não é de estranhar que, entre 2009 e 2010, o número de empreendimentos parados na área de saneamento tenha chegado a 30%, segundo mapeamento realizado pela Agência Nacional de Águas, que acompanha o ritmo dos investimentos públicos no setor.

Nunca é demais lembrar que saneamento se traduz por saúde e que a cada dólar gasto em uma obra os governos economizam outros US$ 4 em despesas médicas. O dado é da Organização Mundial da Saúde, alertando que as doenças relacionadas a sistemas precários de água e esgoto são responsáveis por milhões de mortes em todo o planeta. A esse quadro sombrio se soma mais um componente dramático: a ausência de sistemas adequados de esgotos sanitários responde por 88% dos óbitos por diarreia que ocorrem no mundo, aparecendo os países em desenvolvimento com a maior incidência. As crianças são as maiores vítimas, em particular as menores de 5 anos de idade.

Os números são extremamente graves, a ponto de a Organização das Nações Unidas estabelecer entre suas metas do milênio reduzir em 2/3 a mortalidade infantil de crianças com idade inferior a 5 anos; outro objetivo é cortar pela metade a população mundial sem acesso permanente e sustentável à água potável e ao esgotamento sanitário até o ano de 2015. São propostas ambiciosas que dependem diretamente da vontade política dos governantes e menos das organizações internacionais. O tamanho do desafio pode ser medido pela constatação de que 2,6 bilhões de pessoas espalhadas por todo o mundo não consomem água tratada.

Saneamento básico representa saúde, e o acesso a ele é uma questão de dignidade. Direito que muitas vezes não é percebido em toda sua extensão pela população, que parece aceitar passivamente a sina de conviver com uma valeta a céu aberto na frente de casa. Um foco permanente de doenças que acaba obrigando ao gasto de rios de dinheiro em tratamentos curativos, quando muito mais barato seria investir em prevenção, no caso, um simples sistema com manilha. Para finalizar, fica o alerta do professor Pio Martins sobre saneamento básico e a realidade brasileira: "um país em que metade de sua população não tem rede de esgoto está com o futuro seriamente comprometido. É triste demais".

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