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O que está por trás da dificuldade dos partidos em conseguir montar chapas completas para as eleições de outubro?

Matéria publicada pela Gazeta do Povo no dia 21 de abril mostra que os partidos políticos estão prevendo dificuldades para conseguir montar chapas completas de candidatos a deputado no Paraná. Segundo a reportagem, mesmo as legendas tradicionais – maiores e mais consolidadas – terão dificuldades para preencher o número máximo de candidaturas.

A lei eleitoral brasileira estabelece que cada partido pode ter até o equivalente a 150% das vagas em disputa na eleição. Ou seja, para a Assembleia Legislativa, que possui 54 cadeiras, é possível registrar 81 candidaturas. E, para a Câmara Federal, onde o Paraná tem 30 representantes, é permitido que cada partido lance 45 nomes. Já a regra eleitoral para coligações é um pouco diferente. Partidos coligados para as eleições proporcionais podem lançar o equivalente ao dobro de vagas existentes – 108 para deputado estadual e 60 para federal. Para contornar a falta de quadros e ir para a campanha com a chapa completa, alguns partidos pretendem fazer o máximo possível de coligações, a fim de deixar a chapa competitiva. Por que estão faltando candidatos?

Há muitos motivos para a perda do interesse em se candidatar a cargos públicos. Os custos das campanhas são crescentes. Falta democracia interna nas legendas. Os parlamentares que vão concorrer à reeleição, com suas estruturas de gabinetes, são adversários de grande poder de fogo. De fato, são obstáculos consideráveis. E é por isso que há a necessidade de se discutir reformas que reduzam a desigualdade de condições para concorrer a cargos públicos. Envolver a sociedade nessa discussão e propor medidas que alterem o quadro atual é imprescindível.

Mas não basta só isso. Hoje há um sem-número de formas criativas de se atuar na política partidária. As redes sociais podem, em parte, reduzir a vantagem que o dinheiro proporciona aos candidatos com mais recursos. Outra forma de se tornar um candidato competitivo está na militância em causas sociais que tenham capilaridade suficiente para mobilizar apoiadores.

Existe, entretanto, um problema que vem afastando as pessoas da militância partidária. Há uma tendência crescente em assumir como verdade o preconceito de que a política é uma prática fadada a ser exercida por corruptos. Em parte, a responsabilidade por esse ponto de vista distorcido é dos próprios partidos, que pouco fazem para combater as práticas desviantes de alguns de seus filiados. Como ninguém quer ser rotulado de corrupto ou de conivente com a corrupção, pessoas de bem, que poderiam fazer a diferença na vida pública, desconsideram a candidatura como alternativa para a mudança do quadro político.

Essa é uma inverdade nociva ao próprio conceito de democracia. A política partidária é o instrumento constitucional criado para efetivar o Estado Democrático de Direito. É necessário que a sociedade empreenda esforços para mudar essa mentalidade que vai se enraizando no senso comum. O resgate da imagem dos partidos, evidentemente, não vai ocorrer com apostas miraculosas em marketing ou propaganda. Isso acontecerá apenas quando houver modificações das práticas políticas, não só daqueles que hoje exercem atividades partidárias, mas de toda a sociedade.

É fundamental fortalecer os laços dentro de nossas comunidades, fomentar o surgimento de organizações que lutem pela promoção das mais diversas causas e do entorno onde vivem. É assim que surge uma sociedade sadia e vibrante. Mas também é preciso que pessoas boas, comprometidas com a ética no trato da coisa pública e com as liberdades democráticas, entrem no cenário partidário e eleitoral. Sem isso, corremos o risco de ter cidadãos ativos e conscientes sendo governados por pessoas que são justamente o oposto disso.

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