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Após o massacre promovido pelas forças sírias no vilarejo de Tremseh, na quinta-feira, a diplomacia brasileira elevou um pouco o tom de suas declarações relativas ao conflito que já matou, segundo a ONU, mais de 10 mil pessoas desde que manifestantes começaram a exigir a saída do ditador Bashar al-Assad, há 16 meses. A Cruz Vermelha já considera oficialmente que está em curso na Síria uma guerra civil. A reação brasileira, no entanto, vem tarde, se comparada ao que outras nações têm feito.

O uso desproporcional da força contra os manifestantes sírios já foi fartamente documentado, inclusive com a ocorrência de ações semelhantes à ocorrida na semana passada. Em maio, por exemplo, após a morte de cerca de 120 pessoas em Houla, diversos países ocidentais manifestaram seu descontentamento expulsando diplomatas sírios. O Brasil não tomou essa atitude, limitando-se a reafirmar os pedidos por um diálogo que encerrasse a crise no país árabe. Em 2011, quando ainda fazia parte do Conselho de Segurança da ONU, os representantes brasileiros tiveram pelo menos duas chances de se manifestar: em agosto, aprovaram uma declaração contrária ao governo sírio – o documento, no entanto, tem força menor; quando foi votada uma resolução, em outubro, o Brasil optou pela abstenção.

A falta de firmeza recente, que só agora o Itamaraty começa a rever, lembra as atitudes do governo brasileiro em relação a outro episódio da denominada "Primavera Árabe". Diante da contestação ao ditador líbio Muamar Kadafi – que, em 2009, foi chamado pelo então presidente Lula de "meu amigo, meu irmão" –, a diplomacia brasileira se mostrou reticente. Quando ficou claro que Kadafi usaria de todos os meios disponíveis para eliminar a oposição, o Conselho de Segurança se reuniu para discutir uma autorização para que forças da Otan interviessem em defesa dos insurgentes, sem uma invasão terrestre. O Brasil se absteve, ao lado de Índia, Rússia, China e Alemanha (cuja decisão teve péssima repercussão dentro do país). O Brasil ainda foi um dos últimos países relevantes do planeta a reconhecer o governo de transição líbio, o que até países árabes já haviam feito. Também não se pode esquecer a atuação pífia da diplomacia brasileira em relação à crise humanitária de Darfur, no Sudão, em que a abstenção brasileira no Conselho de Direitos Humanos da ONU ajudou a proteger o presidente Omar al-Bashir, que atualmente tem contra si um mandado de prisão expedido pelo Tribunal Penal Internacional.

Em situações como as da Líbia e da Síria, é imprescindível evitar reações precipitadas, que podem causar ainda mais mortes. No entanto, quando as atrocidades estão suficientemente documentadas e os governos demonstram claramente que não estão dispostos a negociar, preferindo destruir os opositores pela via militar, insistir no diálogo e evitar condenações firmes se torna contraproducente. É o momento em que a prudência se transforma em omissão. Se o Brasil pretende ser levado a sério pela comunidade global, especialmente em sua busca por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança, precisa assumir uma posição mais proativa e deixar de agir a reboque dos principais atores internacionais.

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