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O cenário resultante do primeiro semestre foi favorável para a capacidade de crescimento da economia brasileira: as pressões inflacionárias cederam depois de uma elevação crítica de 2,08% no índice de preços, o investimento direto estrangeiro subiu para US$ 20 bilhões e a cotação das commodities continua sustentada. Mesmo assim o ciclo de expansão das economias líderes dá sinais de exaustão, e, entre nós, sinais de inflação de demanda podem levar o Banco Central a reduzir o corte de juros, abortando a retomada.

Essa é a função de uma autoridade monetária que, como a do Brasil, só tem autonomia para controlar a inflação (e não apoiar o crescimento): retirar o chope quando a festa começa a ficar animada. Mas sua conseqüência é repetir o fenômeno que os economistas chamam de "recuperação cíclica", no qual a redução da taxa de juros anima uma retomada, que – por não se apoiar em ampliação da oferta de bens e serviços – desencadeia pressões inflacionárias que forçam novo aperto da política monetária.

O crescimento sustentado pode ocorrer na medida em que se aumenta o investimento, inclusive do exterior, e os empresários aceleram a aquisição de bens de capital – máquinas e equipamentos para ampliar a produção. Mas no Brasil os agentes produtivos enfrentam situações que tolhem o empreendedorismo, como a pesada carga tributária e as deficiências do aparelho institucional. O primeiro fator levou o ex-deputado Delfim Netto a afirmar que "o Estado brasileiro não cabe no PIB brasileiro"; situação agravada por erros de política econômica: elevação de gastos com pessoal e custeio da máquina, desalinhamento dos juros de referência em relação à média internacional e, mais recentemente, trapalhadas na gestão dos governos, da União aos estados.

No segundo caso o ambiente de negócios inseguro prejudica o fluxo de capital para investimento, dada a resistência na promoção de reformas microeconômicas que contribuíram para o sucesso dos países asiáticos, do Chile, entre outros. Por isso, mesmo com o PAC e apesar do cenário internacional favorável, continuam incertezas em torno do crescimento, levando o professor Yoshiaki Nakano a dizer que "o Brasil ganhou na loteria mas está gastando o prêmio". O diretor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, tem declarado que estamos baseando a retomada atual na exportação de "commodities" sem investir numa produção industrial sólida capaz de resistir a um ajuste externo.

Ainda agora o dinheiro da Ásia que vem procurar lucro rápido no Brasil – ganhando na diferença de juros e na especulação –acelera o desalinhamento cambial e afeta muitas empresas fabris, num fenômeno que, se não parece crítico a curto prazo, no futuro terá conseqüências. Aliás, elas já se fazem presentes: segundo o economista Eduardo Gianetti da Fonseca, apesar de se manter como a 10.ª economia do mundo, pelo critério de paridade de poder de compra, o Brasil encolheu sua participação de 3,9% para 2,7% do PIB mundial nos últimos 25 anos, uma perda de cerca de 30%.

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