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O governador Roberto Requião, inconformado com a escassíssima maioria de 0,2% que lhe garantiu a reeleição no domingo passado, investiu em sua primeira entrevista coletiva contra todos os moinhos de vento que povoam seus pensamentos, especialmente a imprensa, atribuindo-lhe responsabilidade pelos mais de cinqüenta por cento dos eleitores – os que votaram em seu adversário e os que anularam seus votos – que não endossaram suas idéias e seu estilo de governar.

A RPC e especialmente a Gazeta do Povo, alvos habituais das diatribes do governador no passado, estão desta vez na companhia ilustre de grandes veículos e de outros nomes exponenciais da imprensa brasileira – O Globo, Folha de S. Paulo, CBN, Míriam Leitão, Pedro Bial, entre outros –, todos preocupados, segundo o governador, em enganar a opinião pública com mentiras a seu respeito. Para os paranaenses, acostumados ao modo peculiar do governador articular seus raciocínios, isso não chega a ser novidade. Também não adiantaria lembrar a Sua Excelência que não é necessário qualquer esforço de imaginação para que a imprensa responsável transmita aos seus leitores, ouvintes ou telespectadores uma impressão negativa da capacidade serena de julgamento do governador a respeito de todos aqueles que contrariem a sua maneira própria de ver o mundo.

O que preocupa em mais essa manifestação de destempero e de desequilíbrio emocional do governador é o alvo escolhido por ele, a imprensa e os jornalistas independentes que "ousaram" criticá-lo ou analisar com desaprovação suas idéias. É preocupador, porque em todos os regimes totalitários que se instalaram no mundo, um dos primeiros – se não o primeiro – alvos da antipatia dos governantes que tratam o processo democrático como mero ritual para alcançar o poder absoluto sempre foi a ação da imprensa livre. Seguir-se-ão inevitavelmente tentativas de inibir na imprensa e em todos os meios modernos de veiculação de opinião o direito de expressar livremente as discordâncias e exercer o contraditório, um componente essencial e insubstituível das democracias. Pior ainda: em todo o mundo, a intimidação dos críticos tem sido invariavelmente o estágio preparatório para agressões morais e físicas contra todos os que ousam discordar.

A tentativa de jogar a população contra os veículos e os profissionais que não rezam pela cartilha dos poderosos é um sinal inquietante de que novas ameaças e tentativas de cerceamento e de intimidação se seguirão em nosso estado e em nosso país, num crescendo incontrolável se não houver uma reação firme e imediata a essa atitude grotescamente totalitária.

Parece ainda escapar a Sua Excelência uma verdade insofismável: a partir do momento em que ascendeu novamente ao governo do estado, suas responsabilidades são com a totalidade da população e não com apenas com aqueles que sufragaram seu nome. Os paranaenses que não concordam ou com suas idéias, com seu estilo ou com suas crenças políticas e que, pelo resultado numérico da eleição, representam a maioria dos eleitores deste estado merecem e exigem respeito. Ou pensa o governador Requião que um estado pujante como o Paraná foi construído com as pedras da discórdia que ele brande com desenvoltura e gosto? Não, este estado foi e é construído com a argamassa do trabalho solidário e construtivo de mais de 10 milhões de paranaenses, inclusive os mais de 3 milhões de eleitores que não viram nele o governante de seus sonhos.

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