• Carregando...

O Brasil sediará a Copa do Mundo de Futebol em 2014 e o Rio de Janeiro recebeu com festa a notícia de que foi escolhido para sediar a Olimpíada de 2016. Em meio à legítima euforia, viu-se também muitas bravatas de políticos e dirigentes esportivos. Não há como negar que melhorou muito o conceito do Brasil no resto do mundo, e que o país caminha para entrar no clube dos desenvolvidos em algumas décadas. É hora de transformar a euforia em planejamento. De deixar de lado as bravatas de sempre, colocar os pés no chão e começar a tra­­balhar sério, porque a tarefa é, do ponto de vista político, econômico e administrativo, altamente complexa, cara e desafiadora.

Uma das preocupações é a de natureza financeira, já que todo sonho tem de se confrontar com um fluxo de caixa. Somente para a Copa do Mundo em 2014 o país terá de fazer altíssimos investimentos em reforma de estádios, transportes, hotelaria, aeroportos, comunicações e mais uma longa lista de obras de infraestrutura. Uma estimativa inicial e precária dá conta de que, somente na preparação dos estádios, seriam necessários recursos de R$ 5,7 bilhões, valor que certamente será muito maior, pois tudo por aqui termina muito mais caro do que as primeiras previsões. A previsão de gastos para a reforma e a preparação dos estádios é apenas um número inicial e parcial, pois já foram divulgadas estimativas de que seriam necessários R$ 80 bilhões em investimentos públicos e privados nas 12 cidades que sediarão os jogos da Copa.

É bem verdade que os investimentos ficarão após a Copa do Mundo, beneficiando as populações das cidades-sedes. Em Curitiba, fala-se em R$ 4,5 bilhões de investimentos, com destaque para as obras do metrô, a chamada Linha Azul. Essas estimativas são sempre muito precárias e só para o Rio Janeiro foi divulgado que o investimento seria de R$ 23,2 bi­­lhões, a ser aplicado pela prefeitura, pelo governo do estado e pelo governo federal, para preparar a cidade para a Olimpíada de 2016. É preciso cuidado para que a história não se repita, fazendo o total dos investimentos ser muito maior do que os valores inicialmente divulgados. Afinal, passada a euforia, cabem duas perguntas: de onde virá o dinheiro e quem será responsável pela aplicação, gestão e controle das obras? Mesmo com otimismo, dá para antever que problemas surgirão. Pode ser que muitas obras não sejam concluídas com a necessária antecedência, que outras sejam embargadas ou superfaturadas, que projetos sejam alterados e orçamentos estourados. É preciso planejar, fiscalizar e trabalhar com afinco para minimizar ao máximo tais problemas e evitar que sobre para o contribuinte brasileiro uma montanha de dívidas para pagar.

Sem o cuidado necessário, os gastos com investimentos, somados à atual situação fiscal do Brasil, que vem se deteriorando dia a dia em função do descontrole das despesas correntes do governo (fora investimentos), a colheita lá na frente virá em forma de mais inflação e/ou de juros mais altos. Sonhos têm preço, o que faz a realidade ser bem menos agradável do que os discursos, os ufanismos e as lágrimas de políticos compungidos com a escolha do Brasil para os dois mais importantes eventos esportivos do planeta. Agora, cabe apoiar e, ao mesmo tempo, ficar de olho para que o país realize bem tais eventos e saia deles muito melhor do que entrou, sobretudo em matéria de ética pública e de competência gerencial. O desafio é imenso.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]