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Inicia-se o ano e, com ele, confirmando o chavão próprio da ocasião, renovam-se as esperanças de dias melhores – especialmente neste 2010 que será marcado pelas eleições que darão ao país e aos estados seus novos dirigentes executivos e parlamentares. Se o tempo não para e a data serve-nos apenas como referência para demarcá-lo no calendário, por outro lado o tempo de mudanças políticas tão extensas quanto as que vivemos este ano tem o condão de nos fazer refletir sobre o futuro.

O ano que terminou foi surpreendente para o país. Com o mundo em grave crise financeira e sofrendo pesadas consequências sociais, o Brasil conseguiu atravessar o período com arranhões apenas superficiais. O susto dos primeiros momentos, sobretudo porque a paralisação da economia global custou-nos o corte de milhares de empregos, foi logo substituído por notável recuperação – muito antes de nações que ostentavam riqueza e fortaleza. Devemos essa positiva situação aos alicerces de um programa de estabilização plantados há 15 anos e que, responsavelmente, os governos que se sucederam no período souberam preservar.

Com reservas cambiais nunca antes acumuladas em tão grande montante, com uma indústria que se modernizou e em grande medida se tornou competitiva, com um sistema bancário sólido, com o setor agropecuário altamente produtivo em forte expansão e voltado para a exportação, com moeda estável e juros em baixa – o Brasil manteve-se em relativo processo de crescimento, não o desejável ou o suficiente para atender aos desafios internos, mas forte para enfrentar os vagalhões da crise que afogaram o planeta a partir do segundo semestre de 2008.

Todos esses fatores nos induzem à percepção de que, se bem protegidos, o país deve iniciar definitivamente a partir deste ano que se inicia um período de bonança ainda mais sólido, capaz de garantir as bases para o crescimento acelerado que todos almejamos. Não há agora no horizonte ameaças tão fortes, internas ou externas, que nos façam desacreditar dessa possibilidade.

A visão deste cenário otimista, contudo, não quer significar que o país esteja pronto. Muito pelo contrário, longe ainda está das condições ideais. Se, de um lado, as eleições deste ano reforçam a ideia de que o Brasil amadureceu definitivamente para a democracia, de outro permanecem vivos e atuantes fatores que nos prendem ao passado – ou melhor ainda, que nos dificultam caminhar em direção a um tempo mais promissor.

Há a nos segurar grave atraso no que diz respeito à infraestrutura. Vivemos ainda no limite mínimo em relação às demandas energéticas; portos, aeroportos, rodovias e ferrovias são ainda precaríssimos diante da extensão territorial, da expansão das fronteiras agrícolas e da economicidade necessária para estabelecer níveis aceitáveis de competitividade no mercado internacional. Os efeitos internos se expressam, sobretudo, nos índices de desemprego e de geração de renda pela via do trabalho e da produção.

No plano institucional, temos pela frente o desafio de realizar grandes reformas, mais do que necessárias e exigidas há décadas, mas nunca efetivamente colocadas em prática. Dentre elas, sobreleva a reforma política e eleitoral para vencer um sistema viciado e certamente o maior responsável pelas graves distorções de caráter ético a que assistimos em todas as esferas do poder. Infelizmente, apesar dos discursos, é esse sistema que outra vez presidirá as eleições gerais de 2010.

Da mesma maneira, outras reformas mantêm-se relegadas. Pequenos avanços obtidos nos últimos anos não foram suficientes para melhorar significativamente o Judiciário. O sistema tributário mantém-se complexo, escorchante e sufocante para a maioria das empresas. Pouco se fala na trabalhista, embora poucos desconheçam que, na tentativa de proteger o emprego e assegurar direitos, a legislação atual acaba por ser um poderoso fator impeditivo à expansão do mercado de trabalho.

O ano eleitoral não será propício para que tais desejos de ano novo se efetivem. Mas devem eles se tornar pauta obrigatória da campanha pública que se aproxima. E que transformem também em promessa sincera dos eleitos de as levar adiante. Afinal, não custa, como sempre se faz, acreditar que a esperança é a última que morre.

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