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Secretário de Comunicação do diretório nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), o deputado federal paranaense André Vargas se disse favorável à refiliação de Delúbio Soares à legenda, conforme entrevista que concedeu a este jornal na semana que passou. Delúbio, como se recorda, foi um dos principais operadores do escândalo do "mensalão", esquema que utilizava recursos (públicos ou não) para, segundo denúncias da época, conquistar a adesão e/ou a boa vontade de parlamentares ao governo Lula. Para o PT, porém, tratava-se apenas de uma forma de financiamento de campanhas com "recursos não contabilizados", isto é, com caixa 2.

Na entrevista, Vargas disse que o PT não tem como recusar o pedido de Delúbio para voltar ao partido, do qual foi expulso em 2005 no auge da repercussão do escândalo. E, com espantosa e insuspeitada sinceridade, expôs seu argumento.

"Como é que nós vamos dizer que ele não pode se filiar? Nenhum de nós tem condição moral ou política de dizer que ele não pode militar no PT", disse ele, completando: "Se qualquer evidência de caixa 2 servir para excluir alguém do PT, tem que dar uma excluída boa, geral, do PT ou do PTB, do PMDB…"

Trata-se de um tortuoso silogismo o formulado pelo dirigente petista. Parte das premissas de que caixa 2 não é crime; mas, se for, como todos os partidos fazem uso comum e generalizado de caixa 2, ninguém tem moral para condená-lo. Logo, conclui André Vargas, não há razão para o PT deixar de reconduzir Delúbio Soares às suas fileiras militantes.

É no mínimo estranhável a posição do parlamentar. Ele é um dos que, eleitos pelo povo, juraram defender a Constituição e as leis. Portanto não se pode entender que, mesmo indiretamente, defenda a descriminação do caixa 2, por mais que esta seja uma prática comum, corriqueira. Por outro lado, ao limitar a questão de refiliação do notório ex-tesoureiro petista ao seu simples envolvimento numa suposta (mas desculpável) estripulia partidária, desvia o foco para, propositalmente, esquecer do principal.

O principal é muito maior. O principal é que o "mensalão", segundo todas as evidências e provas fáticas e circunstanciais coletadas à época, se tratava de um enorme esquema de corrupção que envolvia o desvio de verbas públicas com a finalidade de promover o enriquecimento ilícito de alguns de seus agentes e de compra de apoio político para o governo. Isso, pelo menos, é o que ficou caracterizado na denúncia da Procuradoria-Geral da República, que identificou como quadrilha 40 pessoas que o operavam, transformando-as em rés em processo que tramita no Supremo Tribunal Federal. Dentre os acusados, o ex-chefe da Casa Civil de Lula José Dirceu, apontado como mentor do "mensalão".

Reduzir a questão da volta de Delúbio Soares ao seio generoso do PT apenas ao problema do caixa 2 – sequer tido como crime! – parece ser uma tentativa do deputado André Vargas de nos impingir uma falácia. Aceita como "normal" tal "erro" para negar o que houve de mais grave por trás dele – um dos maiores crimes de lesa-pátria de que já se teve notícia no país.

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